O Presidente dos EUA cumpre não somente as promessas de campanha. Vai além. E usa o método "inundando a área" com centenas de decretos (ordens executivas e similares) que ocupam os espaços midiáticos e inquietam as pessoas. Ao Presidente importa mais "causar" e tensionar a conjuntura internacional a adotar decisões eficazes.
Na questão ambiental, o negacionismo se manifestou na imediata retirada dos EUA do Acordo de Paris, na ratificação de força dos combustíveis fósseis e na ordem, aparentemente ridícula, de incentivar o governo americano e os consumidores a comprarem canudos de plásticos. A medida está alinhada com a política de incentivos à indústria de petróleo da qual o "canudinho" é um produto derivado.
Evidências revelam que milhões de toneladas de plásticos descartáveis poluem o meio ambiente, os oceanos, intoxicam a cadeia alimentar e o processo de decomposição leva séculos para eliminar o poluente. No plano global, agrava a ocorrência de eventos que oscilam entre o calor extremo, frio intenso, secas, enchentes e incêndios devastadoras. Ou seja, a expressão "emergência climática" não é fruto do alarmismo ativista. É a constatação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima - IPCC segundo a qual a temperatura média global do planeta em 2024 ultrapassou pela primeira vez a marca de 1,5º C, comparado aos níveis pré-industriais, ao longo de 11 meses. O futuro chegou arrombando as nossas portas e ameaçando nossas vidas.
Se o Presidente dos EUA respeitasse alguns dos seus antepassados a exemplo da obra do notável anarcoambientalista Henry David Thoreau (1817-1862), escutaria as vozes de Gifford Pinchot (1865-1946) figura central do conservacionismo, movimento político e ambiental em defesa da proteção da natureza; e de John Muir (1838-1914) que atribuía um valor intrínseco à natureza, tornando-se, assim, fundador do preservacionismo.
De fato, ambos influenciaram a agenda governamental ao incluir um olhar de respeito à natureza na esteira dos impactos do modo de produção capitalista Em 1872, o Presidente Ulysses Grant (1822-1885) criou o primeiro parque nacional no Estados Unidos e, no mundo, o Yellowstone. Na linhagem naturalista e conservacionista cabe destacar, também, o Presidente Theodore Roosevelt (1858-1919) que assumiu o mandato (1901-1909) em decorrência do assassinato do Presidente eleito William McKinley (1843-1901)
No século atual, o Vice-Presidente Al Gore, em 2000, derrotado por George Bush, em polêmica eleição, ganhou destaque internacional como pensador e ativista da causa ambiental, com o documentário "Uma Verdade Inconveniente", premiado com o Oscar em 2007 e, junto com Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas da ONU, com foco no aquecimento global, recebeu o Nobel da Paz.
Com Trump, o significado do Parque Nacional de Yellowstone, o exemplo de Al Gore e os compromissos formalmente assumidos nas diversas conferências internacionais sobre sustentabilidade entraram pelo cano, um cano de plástico, reconhecidamente, uma praga ambiental.
Para os negacionistas, de nada vale a recorrência severa dos desastres ambientais. Zero de compromisso ético com gerações vindouras. Neste ponto, O Brasil, apesar de lamentáveis retrocessos, segue, diante do mundo, como uma potência ambiental de valor estratégico.
Devido à referência a um tipo consagrado pelo Sistema de Unidades de Conservação (SNUC - Lei 9985/2000), o Parque Nacional, cabe ressaltar que o Brasil acolhe e protege em 75 áreas, todos os biomas com base na relevância ecológica, na beleza cênica em paisagens deslumbrantes, criadas por leis e administradas pelo Instituto Chico Mendes - ICMBio, por iniciativa da respeitável da Ministra Marina Silva (Lei 11.512/07).
Na minha passagem pelo Ministério (1995-1998), tive a oportunidade, de ver e viver o encantamento de vários deles e, graças a uma equipe multidisciplinar, competente e comprometida com uma relação amorável com Natureza e respeitosa com a Humanidade, foi possível deixar uma belíssima edição com 36 áreas (Parque Nacionais: SP: Empresas das Artes, 1998), descritiva e fotográfica que encanta e emociona.
Difícil não foi tomar a decisão de realizar o trabalho, mas cumprir com a tarefa que me foi dada pela equipe de escrever a apresentação da obra maravilhosa.
PARQUES NACIONAIS: FRAGMENTOS DA VIDA
Cartola que me perdoe, mas as rosas falam
Falam do encontro
Da chegada
Da paixão
Falam do desencontro
Da partida
Da saudade
Da beleza
Do desespero
Do amor
Falam e... exalam
A Natureza é assim. Fala, exala e ensina.
Ensina que tudo deve estar em ordem
Ordem orgânica
Simétrica
Harmônica
Ensina que a vida é uma totalidade
Ordem inteira
Articulada
Rítmica
Ensina que tudo funciona em equilíbrio permanente
Ordem rompida
Restaurada
(Re)Unida
Em caminhada
Os Parques Nacionais são assim. Fragmentos da totalidade da vida
Fruto da vontade humana
Sob a proteção da lei
Oferta
Uns são recatados
Outros, voluptuosos
Alguns, horizontais
Outros, sinuosos.
Todos místicos
Uma lindeza
Úteis
Úteros
Neles, estão inscritos raios de sol
Rastros de lua
Jornada dos ventos
A inocência dos bichos
Neles, o tempo faz morada
Em séculos de construção
Ou em minutos de destruição
Sempre, o desafio da conservação",
Gustavo Krause, ex-governador de Pernambuco