Doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHA) caracterizam-se por uma síndrome geralmente constituída de anorexia, náuseas, vômitos e/ou diarreia, acompanhada ou não de febre, decorrente da ingestão de água ou alimentos contaminados.
Os sintomas decorrentes da ingestão desses alimentos, diferente do que muita gente pensa, não estão associados apenas ao trato digestivo, podem ocorrer afecções extra-intestinais em diferentes órgãos, como rins, fígado, sistema nervoso central, dentre outros.
As manifestações decorrentes da ingestão da água e de alimentos contaminados podem ser causadas por bactérias e suas toxinas, vírus, parasitas intestinais oportunistas ou substâncias químicas.
O quadro clínico depende do agente etiológico envolvido e varia desde leve desconforto intestinal até quadros extremamente sérios, podendo levar a desidratação grave, diarreia sanguinolenta e insuficiência renal aguda.
Sua importância se destaca especialmente na prevenção de surtos de intoxicação alimentar, que podem ter consequências graves para a saúde pública, economia e bem-estar social.
Importância dos alimentos seguros
A importância dos alimentos seguros é um tema central para a saúde pública e o bem-estar da população. Alimentos seguros são aqueles que não apresentam riscos à saúde quando consumidos, ou seja, estão livres de contaminantes biológicos, químicos e físicos.
Para prevenir essas doenças, faz-se necessárias a implementação de práticas de segurança alimentar, como a higienização adequada de alimentos, o cozimento em temperaturas seguras e o armazenamento correto, o que vem reduzir significativamente o risco de contaminação.
OMS: 600 milhões de pessoas afetadas
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 600 milhões de pessoas adoecem anualmente devido à ingestão de alimentos contaminados, e essas práticas são essenciais para mitigar esses riscos (OMS, 2022).
Campanhas de conscientização podem ajudar os consumidores e profissionais da área de alimentos a entender a importância de manusear, preparar e armazenar alimentos de maneira segura.
Os Governos têm um papel crucial na promoção da segurança alimentar através da criação e implementação de legislações que regulamentem a produção e comercialização de alimentos.
Legislação rigorosa gera efeito positivo
Um estudo publicado na revista Food Control indica que países com legislações rigorosas e programas de monitoramento eficazes apresentam taxas significativamente menores de surtos.
A estimativa da OMS é que os custos relacionados a doenças transmitidas por alimentos podem atingir bilhões de dólares anualmente (OMS, 2022).
No Brasil, quase 7 mil surtos
No Brasil, estudos recentes realizados pelo Ministério da Saúde considerando o recorte de 2014 a 2023 concluíram que, 6.874 surtos foram registrados, com 573.969 pessoas expostas, dessas 110.614 adoeceram, 12.346 foram hospitalizadas e 121 chegaram a óbito.
A ingestão de água contaminada teve a participação em 28,8% dos casos e 34% dos surtos ocorreram nas residências.
E.coli identificado em 34,8% dos casos
O agente identificado em 34,8% dos casos foi a E.coli, bactéria presente nas fezes. Em resumo, a segurança alimentar é vital não apenas para a proteção da saúde individual e coletiva, mas também para a promoção do desenvolvimento econômico e social.
Políticas e ações que garantam a segurança dos alimentos são essenciais para garantir o papel fundamental da água e dos alimentos para as pessoas que é a nutrição e o desenvolvimento das mesmas.
Maria José de Sena, Doutora em Medicina Veterinária, Reitora da UFRPE e membro da Academia Pernambucana de Ciências.