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O que o DeepSeek e a guerra pela IA nos ensinam sobre open source software

O modelo de produção descentralizado dos open source existe há décadas, permitindo que a comunidade possa executar melhorias, sugerir correções....

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MARCELLE PENHA

Publicado em 08/02/2025 às 0:00 | Atualizado em 08/02/2025 às 8:52
DeepSeek é concorrente da OpenIA, do ChatGPT - Thiago Lucas/ Design SJCC

Inteligência artificial é o momento. Não há um dia em que não escutemos algo sobre o assunto. Mas, recentemente, as manchetes do mundo todo foram povoadas por uma nova ferramenta de IA: a chinesa DeepSeek. Além de ter sido o app gratuito mais baixado nos Estados Unidos, na AppStore, no dia 27 de janeiro, o DeepSeek fez Wall Street enfrentar uma reviravolta em razão do seu lançamento.

Para se ter uma ideia, as ações da Nvidia, desenvolvedora de chips usados em IAs generativas, caíram 17%, representando uma perda de US$ 589 bilhões em valor de mercado. Lembremos que a Nvidia é uma das empresas que mais ganhou com o boom das IAs, já que é a grande desenvolvedora dos chips mais desejados pela indústria. Mas não apenas ela foi impactada: somadas, diversas empresas de tecnologia perderam quase 1 trilhão de dólares de valor de mercado.

Mas o que é o DeepSeek e como provocou tanta agitação? Trata-se de uma ferramenta de IA generativa, em formato de chat, habilitado em uso de linguagem natural, muito parecido com o Chat GPT, o Copilot e o Gemini. Seu símbolo é uma baleia azul simpática. O seu grande impacto decorre - além de ter sido desenvolvido por uma startup chinesa - da alegação de que seu modelo foi treinado usando chips menos poderosos (os mais potentes sofreram restrições de exportação pelo governo americano) e em 95% menos tempo que o treinamento do GPT-4.

O modelo foi desenvolvido com 6 milhões de dólares, em apenas dois meses. Para colocarmos os números em perspectiva, Trump anunciou, em janeiro, uma joint venture entre a OpenAI, o SoftBank e a Oracle, envolvendo 100 bilhões de dólares de investimento em IA. Esse é um mercado que movimenta muito dinheiro, e a China, com sua DeepSeek, aparentemente fez muito com muito pouco.

Há ceticismo e resistência em torno desses dados. Mas fato é que o DeepSeek utiliza uma arquitetura interna que requer menos memória e, portanto, reduz os custos computacionais. Há ainda um detalhe importante nisso tudo: é um produto open source, o que em bom português significa código aberto. É, de forma simplificada, um tipo de licenciamento de software que permite que qualquer pessoa acesse, modifique e compartilhe o código fonte.

Isso não é novidade do mercado das IAs. O modelo de produção descentralizado dos open source existe há décadas, permitindo que a comunidade possa executar melhorias, sugerir correções e atuar de forma colaborativa. Essa, porém, não era a escolha padrão dos desenvolvedores de IA até hoje. O Chat-GPT, por exemplo, é um modelo comercial, sendo necessário pagar para desenvolver uma ferramenta a partir dele, ou, ao menos, pagar assinaturas para acessar certas funções.

Ocorre que, nesse mercado, o tipo de licença escolhido pelo desenvolvedor faz toda diferença. E o DeepSeek escolheu um modelo de licenciamento permissivo, que possibilita ao usuário fazer praticamente qualquer coisa com o produto, inclusive uso comercial. Ressalvadas algumas limitações - como, por exemplo, a impossibilidade de usá-lo para violar a lei ou para usos militares - o uso do DeepSeek é, em geral, gratuito e livre. Open source ou não, o fato é que uma guerra tecnológica está em curso, em diversos aspectos. Tanto que, ao escrever esse artigo, abri o DeepSeek e recebi o seguinte aviso: "Devido a ataques maliciosos em larga escala aos serviços da DeepSeek, o registro pode estar congestionado. Por favor, aguarde e tente novamente". Aguardemos os próximos capítulos!

Marcelle Penha, advogada especialista em Direito Digital e Tecnologia, sócia so Nunes Costa Advocacia

 

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