Plástico no cérebro humano
Não seria surpresa se o cérebro plastificado fosse o responsável por tantos brasileiros torcendo contra o Oscar para Fernanda Torres....

O plástico está ocupando o planeta e seus habitantes. Nanopartículas foram encontradas em vários órgãos e em placas de artérias do corpo, tendo relação com mais AVC, infarto do miocárdio e morte.
Um estudo envolvendo brasileiros foi recentemente publicado no JAMA Network Open (CNPq, AvH Foundation - Alemanha, Plastic Soup Foundation e FAPESP). Foram encontradas partículas de microplástico em vários cérebros examinados, sendo mais comum o polipropileno usado nas embalagens de alimentos e garrafas de água. Não está definido o que exatamente podem provocar no corpo, mas são muitas preocupações considerando as 500 milhões de toneladas produzidas em 2024 com milhares de substâncias químicas, muitas delas perigosas para a saúde e o meio ambiente. Um terço é utilizado em embalagens descartáveis (uso único) e menos de 10% são reciclados. Milhões de toneladas têm como destino os oceanos, rios, solo, ar e o corpo dos seres vivos. Segundo estimativas, recebe em plástico o equivalente a um cartão de crédito por semana. Uma parte sai, outra fica. Estudos já demonstraram acúmulo no pulmão, sugeriram impacto na cognição e QI, na função da tireoide, na incidência de diabetes, obesidade, hipertensão, no risco cárdio vascular, endometriose, fertilidade, câncer gastrointestinal, abortos e mal formações. Foi descrito possível envolvimento em alergias alimentares. Quando o sistema imunológico reconhece partículas como estranhas, normalmente reage contra elas tendo como resultado inflamação e isso pode estar ocorrendo com o plástico.
O estudo realizado em São Paulo encontrou substâncias amplamente utilizadas em embalagens de alimentos, utensílios de cozinha, equipamentos médicos e adesivos. Partículas muito pequenas vencem a barreira hemato encefálica, são internalizadas nas células, alterando a sua função. Em animais, a presença de microplásticos no cérebro está ligada a efeitos neurotóxicos.
Estamos rodeados por plástico e existe pouca regulamentação. Enquanto algumas instituições consideram que as evidências científicas não são suficientes para demonstrar que os níveis de microplásticos ou nanoplásticos encontrados nos alimentos envolvem risco para saúde humana, várias outras têm criticado omissões no trato do assunto.
Um envelope plástico de chá libera mais de 1 bilhão de pequenas partículas. Existem citações de relação com doença inflamatória intestinal, câncer e doença cárdio vascular, mas enquanto não houver clareza nos dados, não seria má ideia usar envelopes de papel ou material biodegradável, sem obrigatoriamente interromper o uso do chá, se ele faz a pessoa mais feliz.
São necessários estudos para definir exatamente quais os danos, mas já passou da hora de reduzir a produção e aumentar a reciclagem. O meio ambiente e os seres vivos agradecem.
Não seria surpresa se o cérebro plastificado fosse o responsável por tantos brasileiros torcendo contra o Oscar para Fernanda Torres e outros preferindo a derrota da seleção verde e amarela de futebol. O plástico causando um tipo grave de loucura, enclausurando o pensamento a direita ou esquerda, dependendo do hemisfério cerebral mais afetado e mudando de forma raivosa o comportamento humano ao redor do mundo.
Só assim seria compreensível.
Sérgio Gondim, médico