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Termópilas, uma lição de união e camaradagem

Quando estamos na reserva, cada retorno a um quartel representa feliz oportunidade de revigorar valores e tradições que fundamentam nossa formação.

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OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS

Publicado em 21/12/2024 às 0:00 | Atualizado em 21/12/2024 às 9:52
Refleti como a velha camaradagem e a genuína união permanecem como atributos primordiais de nossa profissão. Nada mudou - CMNE

Descrevo, a seguir, uma passagem pessoal que pode parecer prosaica aos olhos de pessoas não iniciadas nas servidões militares, mas que é perfeitamente compreendida por aqueles que se dedicam à defesa da Pátria, mesmo diante de sacrifícios muitas vezes incompreendidos.

No início desta semana, compareci a uma unidade militar, com o objetivo de renovar minha carteira de identidade.

Quando estamos na reserva, cada retorno a um quartel representa feliz oportunidade de revigorar valores e tradições que fundamentam nossa formação.

Assim que entrei no salão de recepção, ouvi uma chamada:

— E aí, general! Cazá, Cazá, Cazá! A turma é mesmo boa! Tudo bem com o senhor? Saudades do nosso "Forte das Cinco Pontas", dos exercícios, daquelas operações no sertão, MANDACARU, ASA BRANCA, PIPA.

Identifiquei o entusiasmado torcedor do Leão da Ilha: um veterano sargento do Quadro Especial, com quem tive a honra de servir no Esquadrão de Cavalaria de Recife.

— Eu também sinto saudades. Ah! Este ano vamos para a Libertadores — comentei, esboçando um sorriso, mas sem muita confiança.

Subindo os degraus que levavam à repartição de meu interesse, encontrei um antigo chefe que fora tratar de algum assunto pessoal.

— Rêgo Barros! Que prazer revê-lo, pica-fumo (expressão antiga da cavalaria hipomóvel para os jovens oficiais). Tudo bem contigo, e com a família?

— Tá tudo bem, general, graças a Deus. Curtindo a reserva com esposa, filhos e, principalmente, netos.

No Gabinete de Identificação, fui prontamente atendido e, em pouco tempo, deixei o local já com o espelho da nova carteira. Retornei ao lar com um sentimento renovado.

Ainda no carro, refleti como a velha camaradagem e a genuína união permanecem como atributos primordiais de nossa profissão. Nada mudou. São poucas as carreiras que cultivam esses valores como atributos comportamentais essenciais.

Durante essa meditação, recordei-me de duas passagens icônicas de filmes históricos, ambos amplamente reconhecidos pela crítica e pelo público: Gladiador e 300 de Esparta.

No primeiro, Máximus, general das Legiões Félix, reduzido à condição de escravo e gladiador, encontra-se no centro do Coliseu. Ali, ladeado por outros gladiadores, aguarda a abertura dos portões de ferro da arena, por onde emergiriam os algozes do imperador Cômodo com o objetivo de aniquilá-los.

Máximus brada aos seus companheiros:

— Seja lá o que sair daqueles portões, temos mais chances de sobrevivermos se lutarmos juntos.

Eles permanecerem unidos e triunfaram sobre os mais ferozes inimigos que se interpuseram em seus caminhos para a liberdade.

No segundo, Leônidas, rei de Esparta, seleciona trezentos guerreiros e os posiciona na estreita passagem do desfiladeiro das Termópilas, enfrentando o exército persa de milhares de homens, liderado por Xerxes.

Próximo ao embate final, Leônidas exorta seus companheiros:

— Espartanos! A liberdade nunca é gratuita. Ela exige o maior dos sacrifícios.

O sacrifício dos defensores das Termópilas retardou o avanço persa, permitindo que as cidades-estado gregas organizassem uma resistência unificada, culminando nas vitórias decisivas de Salamina e Plateias.

Esses exemplos históricos, ainda que retratados em obras de ficção, ecoaram por séculos e legaram heranças que ajudaram a moldar os atributos dos homens e mulheres em armas. Qualidades como coragem, lealdade, obediência, disciplina e sacrifício continuam a ser imperativos nos exércitos modernos.

Equivocam-se aqueles que, por amadorismo, oportunismo ou intenções escusas, acreditam que a camaradagem, a união e a defesa de valores da caserna possam ser cisalhadas por visões mesquinhas ou egoístas, que, felizmente, são privilégios de pouquíssimos "Efíaltes".

Caros leitores, aproveito para desejar-lhes Feliz Natal e Auspicioso Ano Novo. Seguimos juntos.

Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva

 

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