No cenário político brasileiro, marcado por embates intensos e pela antecipação do debate eleitoral para 2026, a construção de um sucessor é um tema central tanto para o Governo Federal quanto para os estados. A questão não se limita a nomes ou perfis, envolve estratégias fundamentadas na ciência política e no marketing político.
A construção de um sucessor bem-sucedido requer três pilares fundamentais: legitimidade, continuidade e diferenciação. Em termos de legitimidade, é essencial que o sucessor seja percebido como a escolha natural para manter os avanços e corrigir os erros do governante atual. A continuidade se traduz na capacidade de projetar estabilidade e previsibilidade, enquanto a diferenciação permite que o sucessor não seja apenas uma extensão de seu padrinho político, mas uma liderança com identidade própria. Para isso, é imprescindível construir narrativas que conciliem a figura do sucessor com as demandas populares, o que exige a seleção de lideranças que simbolizem tanto a continuidade quanto a renovação.
O primeiro passo para construir um sucessor é a transferência de capital político. Dados da pesquisa Genial Quaest, divulgados nesta semana, revelam que a aprovação de um governo é um fator-chave para influenciar o eleitorado. Governantes de estados com alta aprovação conseguem moldar a percepção de continuidade, sendo fortes nomes para a reeleição ou de tornarem seus sucessores, herdeiros naturais.
Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (UB) possui 88% de aprovação; no Paraná, Ratinho Jr. (PSD) tem 81%; em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) conta com 64%; em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) registra 61%. Esses governantes aspiram tornar-se as opções de seus partidos e grupos políticos para a disputa presidencial em 2026. Na Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) apresenta 54%, mesmo percentual da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB).
A pesquisa também destaca a importância da percepção de parceria entre governadores e o Governo Federal. Em estados onde o governador é aliado do presidente, os eleitores tendem a apoiar nomes indicados por essas lideranças. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém alta aprovação em estados do Nordeste, como a Bahia (66%) e Pernambuco (65%).
Para consolidar um sucessor, é fundamental posicionar o candidato como a continuidade de um projeto bem-sucedido, utilizando métricas concretas para comprovar avanços. Narrativas que destacam realizações específicas e conectam o sucessor a valores como competência, empatia e visão de futuro têm maior apelo junto ao eleitorado. Outro aspecto essencial é a construção de uma identidade própria para o sucessor. A figura indicada deve ter presença midiática consistente e se diferenciar do padrinho político sem se opor a ele.
Essa estratégia evita o risco de se criar um candidato dependente, enquanto amplia sua base de apoio.
Com a aproximação das eleições de 2026, o governo Lula enfrenta o desafio de consolidar um sucessor que equilibre continuidade e inovação. A pesquisa da Quaest indica que a aprovação do governo está em patamares positivos em diversas regiões, mas com disparidades regionais que exigem estratégias adaptadas. O uso de pesquisas e big data permite identificar segmentos específicos do eleitorado e moldar mensagens direcionadas.
No cenário estadual, governadores bem avaliados também possuem maior chance de sucesso na indicação de seus herdeiros políticos. A combinação de narrativas de realizações, alianças com lideranças locais e um discurso coerente sobre o futuro são fatores determinantes.
Construir um sucessor é um processo que exige planejamento estratégico, conhecimento aprofundado do eleitorado e execução eficaz de campanhas. A conjugação entre ciência política e marketing político não apenas molda o processo eleitoral, mas também define a direção do país e dos estados. O sucesso depende de compreender que a liderança é tanto uma herança quanto uma conquista, forjada na confluência entre visão, narrativa e credibilidade.
Priscila Lapa, jornalista e doutora em Ciência Política; Sandro Prado, economista e professor da FCAP-UPE.