É uma realidade que está em nossa casa, nos escritórios e permeando todas as instituições que dirigem a economia global. Tudo avança de forma muito rápida. Em um passado não muito distante, quando se falava em Inteligência Artificial, a referência era apenas os algoritmos que indicavam um filme ou produto de acordo com as preferências. Agora, as IAs já substituem profissionais com tarefas repetitivas e padronizadas. Em breve, poderão substituir profissionais em tarefas complexas. Aí é que está a virada de chave - e o grande sinal de alerta.
Os robôs, os chatbots, a automação e as IAs generativas já reconhecem padrões de movimento, de comportamento e até linguagens complexas, podendo fazer quase tudo que o ser humano faz. As máquinas, que aprendem 24 horas por dia, em breve, desafiarão os mais experientes profissionais. E não há como escapar dessa evolução. O principal impacto deste fato está, justamente, no mercado de trabalho.
A literatura disponível indica que milhões de empregos podem ser substituídos por máquinas e algoritmos. No livro "Novas Tecnologias versus Empregabilidade", Erick Brynjolfsson e Andrew McAfee trazem uma perspectiva crítica sobre como a inovação tecnológica não apenas cria oportunidades, mas também coloca em risco a empregabilidade de milhões de pessoas ao redor do mundo, principalmente pela substituição dos trabalhadores em uma série de profissões e pela dificuldade de absorção dos profissionais nas novas funções geradas. É por este motivo que, no livro "What to do When Machines do Everything", Malcom Frank, Paul Roehrig e Bem Pring alertam que a readequação da força de trabalho é imperativa.
Pensar criticamente como podemos explorar as nuances do impacto das novas tecnologias e da robótica sobre o mercado de trabalho é um desafio diário e prioritário. Este cenário deve ser analisado sob uma ótica mais realista e preocupada com a velocidade da automação, uma vez que a transição entre empregos obsoletos e novas ocupações será devastadora e não ocorrerá de forma suave. Muitos trabalhadores, especialmente em setores de baixa qualificação, podem ser excluídos permanentemente do mercado de trabalho, aumentando as desigualdades sociais.
Estudos recentes da FGV apontam que cerca de 54 milhões de empregos no Brasil estão em risco de automação nas próximas décadas. Já o relatório do Banco Mundial indica que, aproximadamente, 55% dos empregos no Brasil são suscetíveis à automação em graus variados, com maior impacto em trabalhadores sem ensino superior. Em uma análise mais detalhada, a Coppe/UFRJ aponta que mais de 9 milhões de empregos estão sob alto risco de serem substituídos por máquinas nos próximos anos, principalmente em setores como transporte, varejo e manufatura.
Diante desse cenário, as universidades brasileiras devem se adaptar rapidamente à flexibilização, atualização e revisão dos currículos e das metodologias. Não se trata apenas de criar cursos voltados para as áreas de Tecnologia da Informação ou Engenharia, mas de integrar ao conteúdo de todos os cursos e áreas de conhecimento disciplinas tecnológicas que abordam IA, automação, TI e empreendedorismo.
No mundo automatizado, qualquer profissional precisará ter algum nível de entendimento sobre Inteligência Artificial, automação e programação básica, independentemente da sua atuação. A demanda por profissionais qualificados em áreas tecnológicas está crescendo rapidamente, mas, em comparação com sua necessidade, o Brasil ainda forma poucos engenheiros, cientistas de dados e profissionais de TI.
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