Deixemos o pratrasmente e vamos ao prafrentemente
Eis que surgem na política novos atores extremados, desequilibrando o equilíbrio eleitoral eleitoral em cidades importantes do país.....

Quando acreditávamos já ter visto de tudo na busca pelo voto, e que os extremos não poderiam mais se extremar, surgem novos atores extremados, oferecendo soluções tresloucadas para os problemas da sociedade.
Em muitas cidades, o equilíbrio eleitoral foi alterado. Essa circunstância se deve a figuras pitorescas, com ideias rasas e grosseiras, que têm conseguido atrair eleitores desiludidos com a práxis da política brasileira.
Suas estratégias de marketing se baseiam em vídeos curtos, difundidos nas mídias sociais, com mensagens de fácil compreensão e agradáveis para uma parcela da sociedade. Propostas de governo? Para quê? Eles jogam com a certeza de que muitos eleitores não têm tempo nem disposição para analisá-las.
Esses vídeos, recheados de dancinhas, piadas, ofensas (in)desculpáveis — os chamados memes ou cortes — capturam sim a atenção daqueles que decidem assisti-los.
Como disse acima, o objetivo desses "encantadores de serpente" na campanha está longe de apresentar planos de governo decentes — afinal, eles sequer os têm. O verdadeiro objetivo é obliterar e controlar a consciência de seus seguidores (talvez tenha sido sempre assim, apenas com ferramentas diferentes).
Vivem em um mundo distópico, mas conseguem arrastar consigo muita gente inocente. São as caricaturas modernas de Odorico Paraguassu, o personagem de O Bem-Amado, cujo maior projeto era inaugurar o cemitério da cidade. Mas, cadê o morto?
"Vou construir um sistema de trilhos flutuantes para trens de alta velocidade que circulará pela periferia. Trabalhadores nunca mais pagarão impostos. O transporte público será gratuito. Contratarei um médico para cada dez habitantes. Professores ganharão dez vezes o salário do prefeito."
Tentemos um diálogo coerente com essa turma. Perguntemos: de onde viria o dinheiro para tais absurdidades? O seguidor narcotizado responderia que não importa, seu candidato daria um jeito, e ponto final!
Esses Odoricos burlam as regras eleitorais, desrespeitam as leis, associam-se a figuras duvidosas, insistem no confronto e são mestres em generalidades. Com isso, ocupam cada vez mais espaço, inclusive na mídia tradicional, que está atônita, sem saber como lidar com esses personagens, pois nunca foi tão afrontada em suas certezas.
Quando questionados por jornalistas sobre seus projetos, responderão como Odorico: "Meu caro publicista, isso me deixa bastantemente entristecido, com o coração afogado na deceptude e no desgosto", sem oferecer nada de concreto.
Estamos a trinta dias das eleições municipais. Com o jogo bruto em andamento, a sociedade precisa ficar atenta à escolha de seus candidatos. As melhorias que desejamos nascem no indivíduo, se fortalecem na família, se espalham pela vizinhança e atingem o Município, o Estado e o País.
Quanto mais claras e incontornáveis forem as vontades da população, mais os pretendentes ao poder serão obrigados a se render a elas. Afinal, a democracia não é o governo do povo, pelo povo e para o povo?
Hoje, no Brasil, poucos gestores políticos demonstram capacidade para conduzir suas cidades com responsabilidade e transparência. Incompetência, corrupção e apadrinhamento são algumas de suas "virtudes".
A sociedade, inspirada por Alexandre Magno, aquele que cortou o nó de Górdio, deve, com a espada afiada do voto, desferir um golpe certeiro contra os que gritam aleivosias à nossa porta, jogando-os no ostracismo.
Como diria o personagem da novela: "pondo de lado os entretantos e indo direto aos finalmentes, deixemos o pratrasmente e vamos ao prafrentemente".
Pois bem, prafrentemente será necessário construir projetos de governar verdadeiramente sustentáveis, que caibam no orçamento, tenham começo, meio e fim, e busquem a paz e o bem-estar social.
Projetos geridos por pessoas equilibradas, que nos façam esquecer os anos recentes de loucos atirando pedras em loucos, de loucos rasgando dinheiro e de loucos rindo da desgraça alheia.
E se mesmo diante de todas as argumentações racionais a sociedade optar pelos encantadores de serpente, quem estará certo?
Otávio Sanatana do Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva