Antônio Maria: um boêmio que morreu de amor
Era apaixonado pelo Recife e fez frevos para a cidade. Antônio Maria Araújo de Morais, ou simplesmente Antônio Maria, foi um multimídia.

Ele brilhou como locutor esportivo, jornalista, apresentador, produtor, criador de shows, publicitário, músico, cronista, cantor, compositor e letrista, humorista, cartunista, jornalista, diretor de rádio e televisão e, basicamente, boêmio. Nasceu no Recife, em 17 de março de 1921. Filho de uma família de usineiros na juventude aprendeu piano e francês. Quando era adolescente, sua família teve grave crise financeira, quando seu pai faleceu prematuramente mudando radicalmente sua vida
Estudou no Colégio Marista, onde foi colega de Fernando Lobo, seu parceiro em músicas, como "Ninguém me Ama" e "Menino Grande". Aos 17 anos entrou na Rádio Clube de Pernambuco, como locutor e apresentador de programas musicais, feitos com discos. Em 1940, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi morar no Edifício Souza, na Cinelândia, onde fez amizade com os vizinhos de prédio: Fernando Lobo, Dorival Caymmi, Abelardo Barbosa (que ainda não era o Chacrinha) e o pintor Augusto Rodrigues. Ficou lá apenas 10 meses. Sem conseguir sucesso na carreira, inclusive como locutor esportivo na Rádio Ipanema, decidiu voltar ao Recife.
No retorno, recebeu convites para trabalhar em Fortaleza e Salvador, onde se tornou amigo de Jorge Amado. Em 1947, voltou ao Rio, para ser o primeiro diretor de produção da TV Tupi, convidado por Assis Chateaubriand. Começou, então, a escrever suas crônicas diárias no "O Jornal", que era dos Diários Associados. Circularam durante 15 anos, com os títulos "A Noite É Grande" e "O Jornal de Antônio Maria. Assinou ainda as colunas "Mesa de Pista" em "O Globo" e "O Jornal de Antônio Maria" e "Romance Policial de Copacabana", na "Ultima Hora."
Como compositor, criou clássicos, como "Ninguém me Ama", "Valsa de uma Cidade" e "Canção da Volta" (com Ismael Neto), "Manhã de Carnaval" (com Luiz Bonfá), "Suas Mãos", "O Amor e a Rosa" e "Se Eu Morresse Amanhã" (com Pernambuco) e "Carioca 1954", gravado por Dolores Duran. É considerado um dos reis do samba-canção, tendo também composto polcas, frevos, marchinhas de carnaval, valsas e sambas. Teve importantes parceiros, como, Vinícius de Morais, Evaldo Gouveia, Moacir Silva, Paulo Soledade, Manezinho Araújo, Pernambuco, Reinaldo Dias Leme, João Roberto Kelly e Luís Bonfá.
Entre os que cantaram suas músicas, Dolores Duran, Ângela Maria, Nora Ney, Aracy de Almeida, Emilinha Borba, Elizeth Cardoso, Jamelão, Agostinho dos Santos, Dircinha Batista, Silvinha Teles, Dóris Monteiro, e os pernambucanos Claudionor Germano e Luiz Bandeira.
Considerado o maior boêmio do Rio de Janeiro, não fazia o tipo charmoso, era glutão e teve grandes amores. O maior deles Danusa Leão, que deixou o poderoso Samuel Wainer, dono da "Última Hora", para casar com ele. Claro que foi demitido do jornal. Quando ela se separou, devido ao ciúme exagerado, Antônio Maria entrou em profunda depressão e para os amigos morreu de amor, num infarto fulminante, aos 43 anos, em frente ao "Le Rond Point", famosa boate carioca". Sua derradeira crônica terminava com esta frase: "Só há uma vantagem na solidão: poder ir ao banheiro de porta aberta.
Sua história está num delicioso livro, que li sem conseguir parar: "Um homem Chamado Maria", de Joaquim Ferreira dos Santos,que descreve a trajetória do "menino grande" na música e na imprensa brasileira, suas paixões e desventuras amorosas ,com direito a um impagável capítulo dedicado ao seu casamento com Danuza Leão. O autor destaca que Antônio Maria era espirituoso, ousado, sensível, engraçado. Uma figuraça que se definia como "cardisplicente" e que morreu, literalmente, do coração.
Foi um apaixonado pelo Recife, onde vinha sempre. Amor que mostrou em três frevos que se tornaram clássicos: "Frevo Número 1 do Recife", Frevo Número 2 do Recife e "Frevo Numero 3 do Recife. Nas letras, a paixão pela nossa cidade apareceu, em alguns trechos como: "Que adianta se o Recife está longe, e a saudade é tão grande que eu até me embaraço"; "Ai que saudade vem do meu Recife, da minha gente que ficou por lá" e "Sou do Recife com orgulho e com saudade, sou do Recife com vontade de chorar."
Ganhou uma estátua no projeto "Circuito da Poesia" da Prefeitura do Recife, com uma estátua que está na Rua do Bom Jesus, que é muito fotografada.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1