OPINIÃO

Dez anos sem Ariano Suassuna

Um intelectual eclético, caleidoscópico, que deu ao nosso Estado um referencial de cultura, referencial que há muito fala para mundo.

Cadastrado por

ROBERTO PEREIRA

Publicado em 13/08/2024 às 0:00 | Atualizado em 13/08/2024 às 6:56
Ariano Suassuna, escritor e dramaturgo - DIVULGAÇÃO

O menino Ariano, brincalhão e cheio de peraltices, nasce em João Pessoa, em 1927, quando a Paraíba era governada por seu pai, João Suassuna, depois assassinado no Rio de Janeiro, deixando órfão com apenas 3 anos de idade aquele que escreveria O Auto da Compadecida e inúmeras outras obras, muitas delas traduzidas para vários idiomas.

De João Pessoa para Taperoá e desta para o Recife, passando a ser Pernambuco o seu Estado por adoção. Como Pernambuco é palavra masculina e Paraíba, feminina, chegou a dizer ser Pernambuco o seu Estado paterno, e a Paraíba, o seu Estado materno.

Trouxe da infância o gosto pelo circo, em especial pelos palhaços. Dizia não apreciar a arte circense quando trazia animais como protagonistas. Externava a sua repugnância em assistir, por exemplo, um animal nobre como o tigre ser levado a sentar num tamborete.

As suas aulas-espetáculo eram, singular e plural, o que de melhor poderia existir enquanto ministração de saberes diversos. Num estilo próprio, trazia casos e causos, histórias e estórias, encantos que faziam as plateias sorrirem à gargalhada.

Era o menino crescido no adulto. Menino, mas não mais criança. Luzia nele a maturação do intelecto, da consciência e da conduta. Considerado solidário, fraternal, unido à família, dono de um humor que somente bem fazia. Árduo defensor da nossa cultura.

Declinou dos prêmios ligados às multinacionais, mas externou compreensão para os que recebiam. Guardei uma entrevista, edição de 3/7/1996, que ele concedeu à revista Veja, explicando a sua renúncia a esses lauréis. Chegou a dizer. "Um prêmio chamado Sharp, ou Shell, Deus me livre! Não quero. Acho esses nomes feios. Não recebo prêmio de empresas ligadas a grupos multinacionais. Não sou traidor do meu povo, nem estou á venda."

Fundou, no Recife, com outros intelectuais, o Teatro Popular do Nordeste e o Movimento de Cultura Popular. Em 1970, foi o idealizador do Movimento Armorial, com a proposta de "realizar uma arte erudita brasileira a partir das raízes populares da nossa cultura".

A cultura do Nordeste tem o vazio da dimensão de Ariano, imortal das academias federal e a estadual, respectivamente, a Brasileira e a Pernambucana.

Também prontificou como secretário estadual de Cultura e, antes, municipal de Educação e Cultura.

Estamos, portanto, falando de um intelectual eclético, caleidoscópico, que deu ao nosso Estado um referencial de cultura, referencial que há muito fala para mundo.

Ariano, inesgotável, viverá enquanto formos dignos do seu legado.

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura do Estado e é membro da Academia Brasileira de eventos e turismo.

 

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