Numa leitura atual do mundo, que panorama temos diante dos olhos? Certamente é o da barbárie e da guerra, da ambição e da ideologia desenfreadas, mas também o da diversidade da cultura e do saber, já que, neste século, o conhecimento é nitidamente a moeda corrente entre os povos. Inclua-se, no espectro do conhecimento, a tecnologia e a inovação.
Nessa diversidade repousa a unidade. O espírito humano, por mais que se afirme na vastidão do conhecimento e na multiplicidade das suas perspectivas, encontrará sempre um ponto básico, que lhe serve de apoio: a inteligência, que procura a verdade por todos os meios da sua especulação. E como isso se processa no âmbito da criação intelectual?
O caso da Filosofia, por exemplo, é típico. Qualquer que seja a carreira abraçada, cabe-lhe abrir ao homem os horizontes do saber. E o saber não é a acumulação da cultura, da técnica e da ciência apenas; é conhecer o destino do homem, a sua missão na face da terra, o que lhe compete como ser humano criado à imagem e semelhança de Deus.
A cultura moderna – se assim se pode dizer – não mudou em relação à clássica quando considera a Filosofia como uma espécie de medida comum de todos os saberes.
Não se exige, evidentemente, que todos sejam filósofos. Mas ninguém está dispensado de conhecer a causa das coisas nem o rumo que a inteligência deve tomar diante das efervescências da nossa época, que se misturam com as grandes perplexidades da civilização.
"Somos uma civilização posta à prova," disse o grande historiador inglês Toynbee. E por que posta à prova? Simplesmente porque o homem está desafiado na sua essência, no seu destino, na sua índole.
As causas desses desafios são diversas. Mas todas elas se mostram universais, isto é, comuns a todos os povos, no momento presente. Enquanto cresce o progresso que já é uma criatividade vertiginosa, um assombro, uma espécie de poder mágico conferido ao homem, é o próprio homem que não se sente mais capaz de vencer as suas angústias, as suas inquietações.
O homem, na sua humana ansiedade, vive, à Schopenhauer, a constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir, sendo este o drama a lhe infelicitar a vida.
'É com este mundo desumanizado que estamos nos defrontando. Precisamos, mais do que nunca, de um Suprimento de Fé para confiar em Deus e no homem, apesar de sabermos quão difíceis estão sendo os problemas dos tempos modernos, mas não podemos ignorar que tudo ganha clareza quando o espírito se move na direção da verdade.
A impressão que a civilização dos nossos dias pode dar à primeira vista é a de que a Tecnologia é a única salvação. O desenvolvimento parece ser apenas aquilo que os tecnocratas apresentam. A Comunicação Humana, a Automação, a Cibernética, a Informática, a Econometria – tudo isso, na hora atual da vida em todas as suas dimensões, envolve o homem numa atmosfera de espanto. Mas falta o melhor à compreensão humana, o amor àquele que Deus mandou que amássemos como a nós mesmos.
De que serve conquistar os mundos siderais, que tanto desafiam a nossa imaginação e a nossa curiosidade, se não temos paz, nem amor? Se não somos solidários uns com os outros? Se não há respeito à vida e à dignidade da pessoa humana? Se a Declaração dos Direitos do Homem, proclamada em 1948 pela Organização dos Direitos do Homem, tem sido tantas vezes letra morta? Se não estamos seguros de nós mesmos?
Que as gerações futuras possam encontrar um mundo mais solidário e mais humano num cenário que, amplo e diversificado, deverá ser enfrentado com a benção de Deus, sob o signo da unidade do espírito que eleva, engrandece e fecunda o esforço humano.
Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.