"E se for?"- perguntou uma importante liderança do PT de Pernambuco esta quinta-feira quando indagada por este blog se todo o esforço público que o partido tem feito para ocupar a vice do prefeito João Campos não estaria se transformando em uma forma de levar o chefe do executivo municipal ao constrangimento de negar o espaço e, com isso, responder politicamente pelo gesto. Essa versão é, na verdade, a última de muitas explicações que correm nos bastidores políticos recifenses, desde que os petistas iniciaram um processo até então inimaginável de negociação em torno de uma chapa majoritária. O caminho comum para essas escolhas são negociações entre partidos, muitas vezes restritas aos bastidores, em que a legenda que fornece o vice negocia com o cabeça de chapa o nome da pessoa do partido aliado que deseja ter do seu lado na campanha e no mandato, se a vitória for confirmada.
Neste caso do Recife, o PT fez diferente. Sabendo que dificilmente teria êxito numa conversa reservada com João Campos, por conta do que aconteceu em 2020 e 2022 quando os dois partidos acabaram juntos mas na base de muitos desentendimentos, o PT pôs em ação sua conhecida "democracia interna", de muitas disputas entre os grupos que compõem a legenda até chegar a um denominador comum. Indiferente aos sinais dados pelo prefeito de que preferia uma solução caseira porque pretende se candidatar a governador, o PT recifense abriu inscrições para os "candidatos a vice", coisa que nunca se viu no estado, e discutiu internamente a situação até que esta quinta-feira um dos nomes inscritos, o deputado federal Carlos Veras, ligado ao senador Humberto Costa, abriu mão para o médico e ex-vereador Mozart Sales, apoiado pela senadora Teresa Leitão e pela direção nacional da legenda - é assessor do ministro Alexandre Padilha - e que agora está apresentado como o nome de consenso a ser levado ao prefeito.
João Campos pode, enfim, ceder e aceitar Mozart como seu vice? A senadora Teresa Leitão acredita nisso. Em conversa com este blog ela disse que "há muita guerra de narrativas em toda essa história sobre a vice". Afirma que o prefeito ainda não conversou com Lula sobre o assunto e muito menos disse ao presidente que não aceitaria um nome do PT. "A questão está em aberto - assegura - e só vamos poder dizer que está resolvida após a conversa que Lula terá com João Campos na próxima semana". Embora Lula tenha marcado uma vinda ao Recife na próxima terça-feira ela afirma que os dois não vão tratar deste assunto aqui mas em Brasília.
É possível que nesse encontro Lula esteja acompanhado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, Humberto e Teresa com os quais conversou longamente há cerca de 15 dias sobre a situação do Recife. Nesse encontro o presidente teria concordado com a tese do PT compondo a chapa de João e ficou de defender a idéia mas teria feito um apelo aos dois senadores para que, se as tratativas não tiverem a solução desejada, o PT, mesmo assim, mantenha o apoio ao prefeito.
Lula nem precisaria pedir isso porque a esta altura do campeonato não há outra alternativa aos petistas. Eles não lançaram ou trabalharam o nome de um candidato a prefeito do Recife, mesmo que fosse para negociar mais à frente a composição da chapa, e agora podem ser obrigados a engolir o prato feito. O fato de João Campos não ter dito ainda a Lula que não deseja o PT em sua vice não é motivo para os petistas alegarem que não sabiam de nada.
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