Conta-se que a poesia popular, recitada ou cantada nas feiras e eventos populares surgiu no sul da França, em pleno século XI, pelos versos improvisados de Regréis e Jograis, dois trovadores que deram os primeiros passos para a divulgação e fomento dos seus cânticos, geralmente acompanhados por violinos e pandeiros. Depois disso, na Espanha, o também trovador Homero iniciou os seus versejos poéticos, no mais das vezes declamando trovas e façanhas compostas por Ulisses, durante as noitadas de boemia e de efervescências nutridas pelo vinho que varavam a madrugada. No século XII, o português Antônio Ferreira escreveu em pergaminho as primeiras lições sobre a existência dessa nova modalidade poética que estava surgindo na Europa. Gregório de Matos Guerra, nascido na Bahia e o primeiro doutor brasileiro formado na Universidade de Coimbra, segundo os historiadores, ao retornar ao Brasil após os seus estudos lusitanos, passou a publicar pelas ruas de Salvador, referências elogiosas aos trovadores que estavam surgindo pelo resto do mundo. Para alguns, foi Gregório quem teve a primeira ideia de unir seus versos rimados à viola, que hoje é costumeiramente usada pelos poetas cantadores.
Em meados do século IXX, José Américo de Almeida, um paraibano que sempre engrandeceu suas origens, passou a apreciar e a propagar a importância da tonalidade das violas e dos versos que brotavam dos cantadores, enquanto Augusto dos Anjos, Silvio Romero, Tobias Barreto, Castro Alves, Olavo Bilac e tantos outros poetas imortais, então estudantes da Faculdade de Direito do Recife, iniciaram um movimento cultural buscando aprimorar os improvisos vindos da Europa, realizando declamações públicas no Teatro Santa Isabel e nos corredores da Faculdade, causando enorme sucesso entre os estudantes e abnegados pela poesia.
A cantoria de viola, hoje uma relíquia nacional, porém, a partir de 1830, na cidade paraibana do Teixeira, começou a se expandir pela voz e toada de Agostinho Nunes da Costa, Urgulino do Sabuji e Nicandro Nunes, hoje unanimemente consagrados como os primeiros cantadores de viola no Brasil. Diz-se, portanto, que a cantoria de viola, no Brasil, nasceu efetivamente na cidade serrana do Teixeira, em plena Serra da Borborema, Estado da Paraíba. A partir dos anos 30 do século passado, surgem Antonio Marinho do Nascimento, de São José do Egito, Job Patriota, Pinto do Monteiro e os irmãos Batista (Louro, Otacílio e Dimas), três filhos de Itapetim que passaram a fazer da cantoria a sua profissão, galgando aplausos pelo resto do Brasil, ao tempo em que criaram a "poesia de pé de parede", que até hoje faz parte do folclore brasileiro e dos grandes momentos da poesia improvisada.
Hoje, os novos cantadores de viola fazem parte do cotidiano brasileiro, como um Ivanildo Vilanova, os Nonatos e tantos outros glosadores, que ora realizam festivais, ora empunham as suas violas em festas populares, sítios e residências particulares, de há muito reconhecidos e aplaudidos pelos amantes da poesia popular.
Lourival Batista e Pinto do Monteiro, numa peleja no sítio de Zé de Beja, nos arredores de Itapetim, a certa altura um bode começou a bodejar no terreiro da casa. Louro termina um baião de dois, dizendo: "Que diabo faz esse bode que desde hoje bodeja". Pinto descarrega: "Está achando bonito a nossa grande peleja". Lourival termina o verso enfatizando: "Bode não acha bonito, pois tá fazendo cabrito, nas cabras de Zé de Beja".
Um cantador desconhecido terminou um verso em decassílabo, com o mote: "Na frieza da gruta o Deus Menino, teve o bafo de um boi por cobertor". Job Patriota responde:
Foi assim que o rebento de Maria
No silêncio da simples manjedoura
Teve a mão como santa redentora
E o seu pai adotivo como guia
Nessa pobre e humilde moradia
Estalagem pequena sem valor
Entre pedra, capim, garrancho e flor
Diferente de um prédio bizantino
Na frieza da gruta o Deus Menino
Teve o bafo de um boi por cobertor
Numa cantoria entre Sebastião Dias e Valdir Teles (os dois falecidos), em Tabira-PB, numa quarta-feira, entrou um cego durante a cantoria, fazendo arruaças e atrapalhando os cantadores. Sebastião diz:
Eu não critico do cego
Que vive a perambular
Pode eu perder minha vista
A dele recuperar
Eu ir para o lugar dele
E ele vir pro meu lugar
Dedé Monteiro, aproveitando um mote de Rogaciano Leite de Itapetim, homenageando o pajeú, assim se expressou:
Sou de Itapetim da paz,
De um Zé que a gente admira;
Sou natural de Tabira
De Gonga e Dudu Morais;
Sou de São José - que faz
A região se inspirar;
De Flores -jardim sem par,
Feito de perfume e cores!
Sou do Pajeú das Flores,
Tenho razão de cantar!
Adeildo Nunes, juiz de Direito Aposentado, Doutor e Mestre em Direito de Execução Penal, Presidente da Comissão Nacional de Política Criminal e Penitenciária da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas - ABRACRIM