Se para uns a discussão é sobre se a culpa das enchentes no Rio Grande do Sul pertence à mãe natureza em conluio com a geografia do Estado, enquanto para outros essa culpa recai sobre a desgastada classe política, o essencial, invisível a determinados olhos, grita ao longe: numa hora assim, os criadores/disseminadores de desinformação (fake news) e os larápios da boa fé alheia não sossegam, o que confirma que, neles, não existe recuperação possível. Sua índole é podre.
Há ainda os que - não menos apelativos em sua crueldade - se devotam a golpes utilizando o drama dos gaúchos como pretexto.
O site Brasil de Fato catalogou muitas dessas ações, que facilmente poderiam figurar como crimes hediondos. Confiram-se exemplos:
1 - Avisos a indicar o abastecimento de água com caminhões pipa para prédios por valores entre R$ 50 mil e R$ 100 mil. Pedem adiantamento da metade do valor. É golpe e é fake.
2 - Ligações da Caixa para liberação imediata de empréstimo, FGTS ou qualquer outra benesse. Pedem número da conta, CPF, senha etc. É fake.
3 - A Receita Federal estaria a impedir a entrada de caminhões com doações para o RS por falta de nota fiscal. Não se exige nota fiscal para veículos que transportam donativos para as vítimas das enchentes. Além disso, as autoridades gaúchas e as de Santa Catarina não impuseram qualquer bloqueio na fronteira. Portanto, notícia falsa.
4 - Caminhões com doações de galões de água estariam sendo barrados nas entradas do RS por falta de pagamento de impostos. É fake.
5 - Crianças estariam boiando nas águas dos rios do Sinos e Gravataí por falta de socorro das autoridades. É fake.
6 - Proibição de helicópteros e barcos nos resgates de vítimas das enchentes, especialmente na região de Canoas. É fake.
7 - Oferta de aluguel de lanchas para retorno para casa na região de Eldorado. Paga-se aos supostos donos das embarcações e estes não aparecem nunca no lugar combinado. É golpe.
8 - Supostas visitas de agentes da Defesa Civil, da imobiliária, do governo ou do raio que o parte pedindo para vistoriar casas e edifícios. É golpe.
9 - Áudio de um homem que relata ter visto centenas de pessoas mortas boiando em rios que desembocam no Guaíba. Conteúdo fake.
10 - Vídeo na Internet de desmoronamento de túnel na estrada Rota do Sol, na Serra Gaúcha, quando a cena é de uma estrutura que ruiu na Turquia em 2023, após deslizamento de terra em rodovia que liga o Mar Negro ao Mediterrâneo. Fake news!
11 - Boato de que a distribuição de donativos para vítimas das enchentes foi proibida até segunda ordem do Governo Federal. Fake news!
12 - Falsos brigadianos recolhendo doações de mantimentos ou pedindo Pix em visita a casas e prédios.
13 - Vídeo do momento em que a força da água arrasta várias cabeças de gado quase submersas. Legendas afirmam que as imagens são da cheia gaúcha. Trata-se, porém, de fato ocorrido no México em 2020 durante o transbordamento de um rio. Portanto, é fake.
14 - O Governo brasileiro teria recusado a oferta de ajuda feita pelo Uruguai para as operações de socorro às vítimas das cheias. Um helicóptero emprestado pelo país vizinho está em operação no estado. Falso, portanto!
15 - O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional estaria solicitando Pix para as operações de resgate e reestruturação no RS. É fake.
16 - Bombeiros locais teriam deliberadamente escondido jetskis para não ajudar os flagelados e ilhados. Na realidade, os Bombeiros não usaram os veículos porque eles estragam e não são próprios para águas sujas, barrentas e com galhos e lixo.
Em meio ao ajuntamento de maldades das covardes hienas, surge a "tragédia da tragédia". Produzir e disseminar fake news, assim como aproveitar-se de catástrofes para aplicar golpes, são atos tão monstruosos que deveriam ser punidos tão duramente quanto o homicídio qualificado e impedir progressão de regime. É questão de sobrevivência coletiva a tolerância zero com os falsários e golpistas. Enquanto se tenta chegar a esse patamar que parece utópico, sigamos a fazer a coisa certa por quem precisa e a aprender com a dor, para que nunca mais se repita no que depender da iniciativa humana. Força aos irmãos gaúchos!
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado