Ariano Suassuna preferia o Cego Aderaldo "... a esse imbecil e idiota do Michael Jackson." E justificava a preferência com sábias teorias estéticas. Quando perguntavam a João Cabral de Melo Neto como devemos analisar uma tela, ele dizia que obra de arte não se analisa nem se explica - ou gostamos dela ou não gostamos, "o que vale é a emoção, o quanto ela nos emociona". Já o poeta Jayme Ovalle celebrizou-se por interpretar, traço por traço de uma tela, escultura ou texto em prosa ou verso. Era um gênio admirado e respeitado pelos principais intelectuais do Rio e de São Paulo. Poucos sabem que ele foi o grande inspirador do Movimento Modernista de 22. Que tal uma palestra sobre esse tema na vetusta APL, seu Holanda?
Preferência é como religião e política... Prefiro Núbia Lafayette a Rita Lee, por exemplo. Núbia cantava com sensibilidade e coração: "(...) se o meu passado foi lama, hoje quem me difama viveu na lama também" "(...) se aos teus olhos estou morta, pra mim morreste também..." "A grande dor das coisas que passaram", de Camões. Rita Lee nunca me emocionou. Nem sua contestação debochada: "Mulher é bicho esquisito, todo mês sangra...", disse ela numa tirada de mau gosto.
Não tenho disco dos Beatles nem dos Rolling Stones, prefiro o Trio Irakitan, Quatro Azes e um Coringa e os Anjos do Inferno, que vi na inauguração do auditório da Rádio Poty de Natal, com o "crooner" Lúcio Alves, que morreu abandonado e pobre no Rio de Janeiro. Prefiro o Conde Só Brega a Roberto Carlos, e Reginaldo Rossi, a Erasmo Carlos. Prefiro Billy Eckstine, cantando "Dora, rainha do frevo e do maracatu", de Dorival Caymmi, em perfeito português, a Sinatra, a não ser um "long playing" deste com a foto de Ava Gardner na capa.
Adoro Billie Holiday, a maior cantora de todas, e Elvis Presley cantando Acapulco. Orlando Silva, aos 17 anos, foi considerado por João Gilberto, o maior cantor do mundo, superior a Bing Crosby. E Anysio Silva interpretou extraordinariamente "Alguém me disse", com seu timbre de voz suave e personalíssimo, batendo todos os recordes de vendagem de disco no Brasil. Em minha casinha tem sempre Nelson Cavaquinho, Cartola, Ary Barroso e Ataulfo Alves. ngela Maria era melhor do que Elis Regina. E Lamartine Babo compôs a música mais bonita do Brasil - "Serra da Boa Esperança".
Arthur Carvalho , da Federação Nacional e Internacional dos Jornalista - FNIJ