ISABELLE SARMENTO FIGUEIRÔA*
A Doutrina Espírita é uma jovem empoderada, de vanguarda, independente e crítica, porém bondosa e justa. Ao nascer, ela revolucionou a Humanidade recém-saída da Idade Média e abalou as estruturas sectárias do Velho Mundo, junto com novos paradigmas iluminados pelas mentes de René Descartes, Immanuel Kant e Voltaire. Desde o lançamento de “O Livro dos Espíritos”, por Allan Kardec - pseudônimo adotado pelo professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail -, em abril de 1857, o Espiritismo provoca sentimentos como curiosidade, rejeição, intolerância e descrença, já que surgiu em reação ao dogmatismo das instituições religiosas vigentes.
A proposta da Doutrina Espírita, o “Consolador” prometido por Jesus, que conforta as pessoas através da fé raciocinada, da certeza na vida futura, da lucidez moral, do livre-arbítrio e da Lei de Causa e Efeito, teve como premissa uma nova concepção moral alicerçada em princípios filosóficos, científicos e religiosos. Desde sua origem, ela provoca reflexões acerca de temáticas espirituais (da vida espírita, da volta do espírito à vida corporal, emancipação da alma, intervenção dos espíritos no mundo corporal, mediunidade etc), assim como debate sobre questões sociais, tais como limite do trabalho, igualdade dos direitos do homem e da mulher, desigualdade das riquezas, escravidão, guerras, pena de morte, suicídio, eutanásia, direito de propriedade, obstáculos à reprodução... todos esses temas permanecem atuais, apesar dos quase 200 anos que separam o lançamento da obra inaugural dos dias de hoje.
Não há temática contemporânea que não possa ser compreendida à luz da Doutrina Espírita, uma vez que ela se baseia nas leis divinas, que são eternas e imutáveis. Diferentemente do que se refere às legislações humanas, pois mudam de acordo com as culturas e sociedades. É oportuno mencionar a assertiva de Allan Kardec, organizador e co-autor do Espiritismo: “Se algum dia a ciência provar que o Espiritismo está errado em determinado ponto, abandone esse ponto, e siga com a ciência”.
Esse contexto também remete ao diagnóstico do professor Rivail na introdução d’O Livro dos Médiuns, segunda obra da codificação, lançada em janeiro de 1861: “Todos os dias a experiência nos traz a confirmação de que as dificuldades e os desenganos com que muitos topam na prática do Espiritismo se originam da ignorância dos princípios desta ciência (…)”
Sendo assim, assuntos polêmicos, impactantes e com forte apelo social como descriminalização do aborto e do uso pessoal da maconha, uniões homoafetivas, pena de morte, redução da maioridade penal ou redes sociais podem e devem ser debatidos nos centros espíritas, tanto nas palestra públicas como em grupos de estudo. Mas o importante é nunca perder de vista os princípios básicos da Doutrina. A ideia é utilizar o bom senso e, acima de tudo, seguir as orientações estabelecidas por Allan Kardec.
* ISABELLE SARMENTO FIGUEIRÔA é jornalista, professora e palestrante espírita.