BISPO IVAN ROCCHA
No relato da criação, antes que o pecado e a morte entrassem em cena, a Bíblia diz que o homem e a mulher estavam nus e não se envergonhavam (Gn 2:25). Mas o homem pecou e a morte e a vergonha fazem parte da nossa vida. A vergonha, a culpa, e a condenação são parecidas, no sentido de que esses sentimentos estão ligados ao pecado. Contudo, diferem quanto ao seu grau, duração e magnitude.
O dicionário diz que vergonha é sentimento de insegurança causado por medo do ridículo e do julgamento dos outros. Pode se tornar um sentimento intenso de angústia, desespero, constrangimento, humilhação e remorso.
culpa é o reconhecimento do erro e a condenação é ser sentenciado pelo erro. Quer você se admita culpado ou não, e quer que você tenha sido sentenciado ou não, a vergonha parece algo mais profundo, mais subjetivo e com poder de causar muitos danos físicos, emocionais e espirituais. Em alguma medida, todos nós sofremos com a vergonha ou o medo de passar vergonha. Esse sofrimento tem paralizado muita gente e causado grandes males.
Mas há outra face dessa questão. Quem não tem vergonha parece estar desprovido de auto-percepção e não ligar para a própria depravação. Meu pai, quando queria brincar comigo, normalmente pela minha cara de pau de ser uma menino levado, me chamava de “sem vergonha”. O pecado que habita em nós não gosta de “corar de vergonha”. Sentir vergonha fere nosso ego e nosso orgulho.
Como lidar com esse sentimento que paralisa, causa intenso sofrimento e dor, e ao mesmo tempo aprender a sentir e reconhecer essa verdade que nos aflige, que é a nossa condição de pecadores que sentem vergonha?
A Páscoa que os cristãos celebram é a vitória de Jesus Cristo sobre a morte e a vergonha! Cristo ressuscitou! De verdade, Ele venceu a morte e quem N’Ele crê também terá vida eterna! Quando alguém lê essa frase pode pensar que não iremos mais morrer. Mas não é isso que a Páscoa significa.
A Páscoa significa que a morte perdeu seu poder eterno. Todos iremos morrer, mas quem crê irá ressuscitar para a vida eterna onde não haverá mais morte. Da mesma forma, crer não significa que não iremos mais sentir vergonha. Porém, sim celebraremos na eternidade uma vida sem esse sentimento e sem o medo de passar por ele.
por enquanto, que aqui vivemos, antes da eternidade, o que fazer? Seguimos vivendo essa vida “tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus (Hb 12:2).
Que nessa Páscoa possamos nos alegrar pela ressurreição e manter nossos olhos no Rei Jesus, cujo amor lança fora todo o medo! Amém!
Ivan Rocha é teólogo e bispo da Ireja Episcopal Crismpatica, Catedral da Reconciliação