Cornélio Brennand deixa legado ao mundo empresarial: diversificar e desistir do que não dá certo
O empresário pernambucano faleceu nesta quarta (5), aos 96 anos. Ele comandou grupo que ajudou a contar a trajetória econômica de Pernambuco e do País

Cornélio Brennand foi um homem discreto, de raras aparições. Ao longo de sua trajetória empresarial longeva, trabalhou para que o Grupo aparecesse antes dele. Isso fez com que a história da empresa se sobrepusesse à sua, sempre preservada. Na madrugada desta quarta-feira (5), o empresário faleceu. Partiu no mesmo lugar onde nasceu: na Mata de São João da Várzea, no Recife. Estava com 96 anos e morreu de causas naturais, em consequência da idade.
Respeitando a personalidade reservada de Cornélio Brennand, a família organizou uma despedida restrita às pessoas mais próximas. O velório aconteceu no Cemitério Morada da Paz, às 17h, e a cremação às 19h. As cerimônias de adeus são sempre momentos de memória, de lembranças de cada um sobre quem nos deixa. Ao longo da quarta-feira (5), as redes sociais do Grupo Cornélio Brennand se encheram de homenagens, de palavras de conforto à família e de agradecimentos ao empresário.
NASCIMENTO
Cornélio Coimbra de Almeida Brennand foi o terceiro filho dos seis do casal Ricardo Lacerda de Almeida Brennand e Olympia Padilha Coimbra (Dona Lily). Nascido no dia 9 de junho de 1928, no engenho São João da Várzea, no Recife, integrou uma das famílias mais tradicionais e influentes de Pernambuco.
A vocação para os negócios, Cornélio herdou do pai, Ricardo. Foi ele que, em 1917, fundou o Grupo Cornélio Brennand, iniciando sua atividade produtiva com usinas de açúcar. Depois, Ricardo convidou o irmão mais velho, Antônio Luiz, para entrar como sócio e começaram a diversificar os negócios. A união dos dois deu fôlego ao surgimento de uma nova empresa: a Cerâmica São João.
Estava disseminada a semente de um grupo que ficaria conhecido por sua capacidade de diversificação, governança competente, profissionalismo e preocupação socioambiental. Passados 107 anos de sua criação, o Grupo Cornélio Brennand atua nos setores de energia renovável, vidros planos, desenvolvimento imobiliário e cimento (junto com a Queiroz Galvão).
ENSINAMENTOS
Um dos ensinamentos deixado por Cornélio Brennand para as novas gerações foi praticar o desapego com negócios que não dão certo. Ele defendia que não adiantava gastar energia nem recursos com algo que não está funcionando. Para ele, o indicado é ser radical e acabar com o negócio. Já a aposta em novos setores em ascensão e a diversificação dos negócios são alternativas para reduzir os riscos. O empresário teve sete filhos e a empresa continua sendo dirigida pela família, que está na quarta geração.
LIVRO E 100 ANOS
Em 2017, o Grupo Cornélio Brennand completava 100 anos de história e os filhos do empresário convenceram o patriarca sobre a importância de publicar um livro. Resolveram convidar o escritor Ignácio Loyola Brandão, hoje imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), para a empreitada. Ele topou.
Antes mesmo de conhecer Cornélio e a família, o escritor recebeu da pesquisadora Terezinha Melo um material histórico e iconográfico sobre o grupo. Era um catatau com mais de mil páginas, contendo entrevistas, documentos antigos, recortes de jornais, mapas e fotografias. Brandão preferiu não olhar nada. Queria, primeiro, conhecer 'os personagens'.
CONVERSA E SUCO DE PITANGA
Loyola Brandão foi recebido por Cornélio e sua família no Sobrado da Várzea do Capibaribe, nas terras dos engenhos Santos Cosme e Damião e São João. O escritor provou, encantado, iguarias pernambucanas e tomou suco de pitanga, colhidas das pitangueiras que o próprio patriarca plantou.
Na conversa com Cornélio sobre o livro foi advertido que deveria concentrar a narrativa na empresa, não na família nem nas pessoas. O escritor contou que, aos poucos, foi quebrando a resistência do empresário com algumas 'desobediências'. Brandão pontuou que não dava para contar a trajetória da empresa sem trazer histórias pessoais. E assim, conseguiu, 'furar' um pouco a ideia inicial.
ARTE E CULTURA
Conhecido por sua inteligência e sagacidade no mundo dos negócios, Cornélio Brennand também era uma apaixonado pela arte e a cultura. No ano do centenário do grupo foi responsável pelo projeto de construção do Memorial Ricardo Lacerda de Almeida Brennand, em homenagem a seu pai e fundador do Grupo.
Irmão do ceramista e artista plástico Francisco Brennand, falecido em 2019, aos 92 anos, era admirador e entusiasta do trabalho dele. Sempre esteve próximo, apoiando a Oficina Francisco Brennand pessoalmente ou por meio do Grupo.
"Dono de profunda sensibilidade e com olhar apurado para as artes, Cornélio Brennand foi grande admirador e incentivador do trabalho de Francisco, ajudando a perpetuar a sua obra e seu legado inestimável para a cultura pernambucana. Também coube a ele, através do GCB, o papel de apoiar a criação e manutenção da Academia, a pinacoteca do Instituto, inaugurada em 2003, a construção da Capela Imaculada Conceição, em 2006, e depois a construção do Memorial Ricardo Lacerda de Almeida Brennand, em 2017", destaca a equipe da Oficina, por meio de nota.
LEGADO
Se Cornélio Brennand ficou marcado por sua personalidade reservada, de estratégia nos bastidores, também era conhecido como uma pessoa afável e de respeito ao outro. Nas conversas para o livro dos 100 anos do Grupo, Loyola Brandão contou que repetia a pergunta: “O que aprenderam com seu pai? O que aprenderam com o seu avô". A resposta ouvida era, invariavelmente: “O respeito pelas pessoas, independentemente da posição social”. Que seu legado continue se perpetuando.