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Troça, clube ou escola? No Carnaval de Pernambuco, nem tudo é bloco; entenda

A riqueza cultural da festa se reflete na diversidade de suas manifestações, que carregam histórias, tradições e significados únicos

Por Giovanna Lopes Publicado em 27/02/2025 às 17:36

Quando se fala em Carnaval, a primeira imagem que surge para muitos brasileiros é a de escolas de samba, blocos de rua ou trios elétricos. Mas, em Pernambuco, a folia ganha contornos bem mais diversos.

Clube de frevo, troça, bloco lírico, clube – são tantas denominações que até os foliões mais experientes podem se confundir. Afinal, o que diferencia cada um?

A resposta está na própria história do Carnaval pernambucano e na evolução do frevo, ritmo que embala as ruas de Recife e Olinda durante a festa. Para entender melhor, o historiador Luiz Vinícius Maciel, do Paço do Frevo, explicou ao JC a origem e as peculiaridades dessas categorias.

Os clubes: a formalidade da folia

No final do século XIX e início do XX, os primeiros grupos organizados de Carnaval em Pernambuco eram chamados de clubes. Assim como existiam os clubes sociais e esportivos, surgiram também os clubes carnavalescos, que reuniam grupos de vizinhos, colegas de trabalho ou famílias inteiras para brincar o Carnaval juntos.

"Esses clubes tinham uma formalidade muito grande. Eles saíam à noite, com trajes elegantes: os homens de paletó, as mulheres com vestidos ornamentados ou fantasias de destaque", explica Maciel.

Os desfiles eram organizados e seguiam padrões estéticos bem definidos. As orquestras de frevo acompanhavam os foliões, e a exibição das alas e destaques se tornou uma tradição.

Troça: a brincadeira que virou tradição

Já as troças carnavalescas nasceram do improviso e do humor. O próprio nome vem do verbo “troçar”, que significa zombar, brincar, debochar. "Geralmente, as troças surgiam de piadas, situações engraçadas do dia a dia ou em homenagem a personagens populares da cidade", conta Maciel.

Um exemplo curioso é a Troça Cachorro do Homem do Miúdo, uma das mais antigas do Recife. Ela foi batizada em referência a um vendedor de miúdos de boi que sempre estava acompanhado de um cachorro faminto.

Ao contrário dos clubes, as troças desfilavam de dia e tinham uma organização mais livre, sem muitas regras. No entanto, com o tempo, muitas delas começaram a adotar elementos dos clubes – como as alas e fantasias de destaque – especialmente para participar de concursos de agremiações.

Os blocos líricos e o frevo-canção

O nome "bloco" pode ser associado a diferentes formatos pelo Brasil, mas em Pernambuco ele está intimamente ligado aos blocos líricos.

"Os blocos líricos tocam um frevo mais lento, melódico, com letras nostálgicas que exaltam a memória do Carnaval e da cultura pernambucana", explica o historiador.

Eles são compostos por:

  • Uma orquestra de pau e corda (violões, cavaquinhos e bandolins);
  • Um coral feminino, que canta as canções;
  • As damas de frente, que conduzem o desfile;
  • O tradicional flabelo, uma peça alegórica com o nome do bloco.

Entre os blocos líricos mais famosos, estão o Bloco da Saudade, Madeira do Rosarinho, Batutas de São José e Bloco das Flores.

Por que todo mundo chama de "bloco"?

Apesar das diferenças entre clubes, troças e blocos líricos, na prática, muitos foliões acabam chamando qualquer agremiação de "bloco".

"Hoje em dia, é muito comum ver clubes e troças sendo chamados de blocos. Isso acontece tanto por uma generalização natural quanto pelo surgimento de novas agremiações que adotam essa nomenclatura", explica Maciel.

O famoso Eu Acho É Pouco, por exemplo, não é clube nem troça – mas sim um "Grêmio Lítero, Recreativo, Alcoólico e Socialista", em uma brincadeira que traduz o espírito anárquico do Carnaval de Olinda.

Para evitar confusões, um termo frequentemente usado é “agremiação”, que engloba todas essas categorias sem distinção.

Outra curiosidade são as siglas CCM e TCM, que aparecem nos estandartes de muitas agremiações:

  • CCM – Clube Carnavalesco Misto (indica a participação de homens e mulheres);
  • TCM – Troça Carnavalesca Mista (mesmo conceito, mas aplicado às troças).

Muito além das categorias, o que vale é a festa

No fim das contas, saber a diferença entre clubes, troças e blocos líricos ajuda a valorizar a riqueza do Carnaval pernambucano. Mas, na prática, o que importa mesmo é a energia da festa e a alegria dos foliões que lotam as ruas.

Seja atrás de um estandarte, um boneco gigante ou uma orquestra de frevo, a tradição segue viva, provando que o Carnaval de Pernambuco é único, vibrante e cheio de história para contar.

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