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Projeto Museus Domiciliares lança websérie e livro para valorizar espaços de memória em Pernambuco

A iniciativa destaca museus dentro de residências, promovendo a valorização da cultura popular e da preservação da memória coletiva

Cadastrado por

Kolaiah Geloof

Publicado em 20/02/2025 às 15:16 | Atualizado em 20/02/2025 às 16:30
Imagem do Museu do Cavalo Marinho em Glória do Goitá que projeto Museus Domiciliares que promove lançamento de websérie e livro - Lúcia Padilha

Como resultado de uma pesquisa que mapeou iniciativas museais realizadas em oito residências, localizadas em várias cidades pernambucanas, o projeto Museus Domiciliares será apresentado ao público no dia 26 de fevereiro, às 15h, em um encontro no Memorial da Democracia de Pernambuco, no Sítio Trindade.

Na ocasião, serão exibidos os oito episódios da websérie sobre os espaços e suas coleções, e também ocorrerá a distribuição gratuita do livro com os resultados da investigação.

O público também poderá conhecer mais sobre o processo e as experiências da iniciativa, em uma conversa com a equipe.

Museus em casa

Imagem do Museu do Cavalo Marinho em Glória do Goitá que projeto Museus Domiciliares que promove lançamento de websérie e livro - Lúcia Padilha

Desenvolvido ao longo de 2023 e 2024, a partir de uma vasta pesquisa bibliográfica e de campo, com uma série de entrevistas realizadas, o projeto nasceu do desejo de entender mais sobre esses espaços pouco ou não reconhecidos por uma ideia convencional de museu.

A investigação conduzida pelos pesquisadores Bruna Rafaella Ferrer, Guilherme Benzaquen e Marcela Lins conceituou os Museus Domiciliares como locais dedicados à construção e organização de acervos, que são residências de seus fundadores/gestores e têm uma vocação aberta ao público, de partilha de memória, e com a hospitalidade e o diálogo como práticas fundamentais.

Esses parâmetros, no entanto, não desconsideram a heterogeneidade de cada iniciativa, acolhendo e ressaltando, também, suas particularidades.

O projeto mapeou oito museus domiciliares, através de entrevistas e filmagens, da Zona da Mata Norte ao Sertão de Pernambuco:


“Alguns dos espaços já estão no processo de incorporação da noção de museu para as suas práticas, em diálogo com a Museologia, enquanto outros, não, porque não abraçam essa definição, por acharem que se trata de uma ideia mais específica, tradicional, histórica, de guardar coisas antigas.

Então, também se busca disputar essa ideia mais tradicional de museu; pensar como essas práticas de musealização, construção de memória, podem ser diversas. Esta é uma contribuição interessante da pesquisa: auxiliar no processo de valorização de práticas que são muito importantes em seus âmbitos locais e conseguem se transformar em centros de diálogo e disseminação”, pontua Guilherme Benzaquen.

Difusão da cultura

Imagem do Museu Ivo Lopes em Arcoverde que integra o projeto Museus Domiciliares que promove lançamento de websérie e livro - Lúcia Padilha

A equipe do projeto considera que a pesquisa irá contribuir de forma significativa para revelar e difundir os museus domiciliares como espaços vivos e autônomos de salvaguarda, produção e propagação de conhecimento acerca das manifestações e memória da cultura popular do estado.

As visitas aos museus domiciliares revelaram um aspecto fundamental que une essas iniciativas: a fusão entre práticas cotidianas e o compromisso com a memória e a cultura.

Seja na preservação de sementes crioulas no CSA Yvy Porã (Casa das Sementes Temity Jara) e Riso da Terra, na celebração do coco no Museu Ivo Lopes ou na curadoria de objetos históricos no Marco Zero, esses espaços não apenas guardam acervos, mas também operam como locais vivos de produção cultural, onde histórias individuais e coletivas estão em constante diálogo.

“Fomos em busca de espaços fora dos grandes centros urbanos e observamos que são práticas de vida nesses territórios, com diferentes maneiras de organizar, produzir, manter coleções e uma mediação, um contato com o público.

Um modo de partilha que borra um pouco as fronteiras entre público e privado. Procuramos observar o que há em comum com a prática museal tradicional, mas, na verdade, o projeto parte do que diferencia. A intenção não é, a partir desse estudo, definir ou classificar essas casas como museus domiciliares.

Na verdade, queremos mais questionar e refletir sobre um conceito eurocêntrico na concepção de museu vigente”, aponta Bruna Rafaella Ferrer.

Imagem da Casa de Zé Bezerra Buíque integrante do projeto Museus Domiciliares que promove lançamento de websérie e livro - Lúcia Padilha

Nesse processo, as coleções encontradas revelam as inúmeras possibilidades dos Museus Domiciliares: passam não só por objetos pessoais e/ou sagrados, fotografias, obras de arte, itens que estão nas famílias por gerações, pela dança, música, como também, como no caso das sementes, pela ecologia – cujo prefixo vem do grego oikos, que significa “casa” ou “lugar onde se vive”.

“São espaços que fazem pensar outras formas de se elaborar uma expografia, uma curadoria, uma mediação.

Acho que esses espaços trazem uma força e uma riqueza para o debate da Museologia por apresentar para a gente outras soluções nessas três grandes frentes. Esse movimento de conceber outras formas de museu não é uma novidade; está muito bem sedimentado na própria Museologia, mas acho que o grande trunfo desse projeto é trazer esse olhar a partir desses espaços que também são casas.

É uma ideia diferente da ‘casa-museu’ (ou ‘museu-casa’), como as de Rui Barbosa ou Getúlio Vargas, por exemplo, que não são mais residências. Nós temos olhado para esses espaços que têm a hospitalidade como traço definidor”, reforça Marcela Lins.

O projeto resultou em uma websérie de oito episódios, com foco em cada um dos Museus Domiciliares, e um livro – em formato impresso e digital – com as entrevistas e o processo da pesquisa, no intuito de difundir essas iniciativas como espaços vivos e autônomos de salvaguarda, produção e propagação de conhecimento.

Tanto a websérie como a publicação (digital) estão disponíveis nas redes sociais do projeto (Youtube e Instagram). O projeto conta ainda com a participação de Leonardo Lacca na direção de fotografia, Isabela Stampanoni na edição dos vídeos e Lúcia Padilha na coordenação de produção.

O projeto Museus Domiciliares tem incentivo do Funcultura, através da Fundarpe, Secretaria de Cultura de Pernambuco e Governo de Pernambuco.

Serviço

Imagem da CASA Yvy Porã Paudalho, integrante do projeto Museus Domiciliares, que promove lançamento de websérie e livro - Lúcia Padilha

Lançamento do projeto Museus Domiciliares, com websérie e livro

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