Reza a lenda que, nas noites silenciosas de Catende, Zona da Mata Sul de Pernambuco, uma misteriosa mulher de branco surgia ao longo do caminho que levava à antiga usina da cidade. Com uma sombrinha em mãos, ela atraía operários desavisados, conduzindo-os até o cemitério local antes de desaparecer na escuridão.
O medo se espalhou entre os moradores, tornando a Mulher da Sombrinha uma das assombrações mais famosas da região.
Foi essa história que, em 1982, inspirou um grupo de amigos a criar um bloco de Carnaval que levasse a lenda para as ruas de Catende.
O que começou com uma boneca improvisada – um pedaço de madeira com uma cabeça de mamão entalhada – cresceu ao longo das décadas e se tornou um dos blocos mais importantes do interior de Pernambuco, arrastando foliões e fortalecendo a identidade cultural da cidade.
Patrimônio do Carnaval de Pernambuco
Hoje, a Mulher da Sombrinha não é apenas uma lenda, mas um ícone do Carnaval pernambucano. O bloco, reconhecido como patrimônio imaterial do Estado, recebe apoio da prefeitura e reúne milhares de pessoas a cada edição.
A boneca gigante que representa a assombração se renova a cada ano, ganhando figurinos cada vez mais elaborados, que envolvem um meticuloso processo de criação.
Geneilson Sales, estilista e bordadeiro responsável pelos figurinos da boneca, destaca a importância do trabalho.
“É muito gratificante, principalmente por eu ser filho da terra e estar junto de uma equipe tão grandiosa, fazendo um evento glamouroso como esse. Eu me sinto privilegiado por fazer parte disso tudo, de entrar na história da minha cidade, a história desse bloco que é um dos maiores do interior. Então, é só emoção para mim”, afirma.
Cada ano, um novo tema é escolhido para a roupa da Mulher da Sombrinha. “Geralmente, cria-se um tema. E em cima desse tema, eu vou criando detalhes, pegando referências e a gente vai montando aos poucos até chegar num ponto que todo mundo aprove”, explica Geneilson.
O processo pode levar mais de um mês até ser finalizado, com bordados feitos completamente à mão.
Tradição na costura do figurino
Parte fundamental desse processo é o trabalho de Eliane Maria, costureira do figurino da boneca há cerca de 35 anos. Seu envolvimento com o bloco é também pessoal. “Eu comecei a costurar há muitos anos porque meu marido foi um dos fundadores do bloco”, conta.
Eliane vê no bloco um símbolo do Carnaval de Pernambuco. “Costurar a roupa da boneca, para mim, é satisfatório. A Mulher da Sombrinha é o maior bloco do interior de Pernambuco. Ela já é patrimônio imaterial do Estado. E para mim é uma honra, eu fico feliz em fazer.”
Apesar dos desafios enfrentados na confecção da roupa, que pode exigir até 30 metros de tecido, Eliane segue firme na missão. “Todos os anos é um desafio, porque os modelos das roupas são bem complicados. Não é só um vestido para colocar nela, todo ano é um modelo diferente”, explica.
Desfile e programação do bloco
Mantendo a tradição, o bloco da Mulher da Sombrinha se concentrará na noite deste sábado (22), na entrada do Cemitério da Sagrada Família, em Catende, e sai à meia-noite do domingo (23), garantindo mistério e folia aos participantes.
Programação
Sexta-feira (21)
- 21h - Trio da Huanna;
- Babado Novo, no Pátio.
Sábado (22)
Polo Danilo dos Ideais (praça):
- 16h - Bloquinho infantil: Klever Lemos;
- Patati e Patatá (cover);
- 21h - Bloco da Boa Idade: Nonô Germano;
- 00h - Mulher da Sombrinha;
- Necivaldo Lima;
- Asas da América;
- Geraldinho Lins.
Polo Pátio:
- Ninha (ex-Timbalada);
- Raí Saia Rodada (Saia Elétrica).
Domingo (23)
Polo Danilo dos Ideais (praça):
- 15h - Fael;
- 16h30 - Michele Andrade.
- 18h - Bloco os vagabundos.
Polo Pátio:
- 21h - Cavaleiros Elétrico;
- 22h30 - Banda Nairê.