"Anora", novo filme de Sean Baker que concorre a seis categorias no Oscar de 2025, incluindo Melhor Filme, parte de uma premissa clássica das comédias românticas hollywoodianas: uma mulher de classe e ofício marginalizados é pedida em casamento por um milionário.
O longa pode até nos dar a sensação de estar diante de um "Uma Linda Mulher" (1990) juvenil, libidinoso e independente, mas usa essa expectativa para ir além, explorando diversos gêneros e testando limites.
Após os primeiros 30 minutos, "Anora" torna-se uma comédia de situações absurdas, acompanhando uma corrida desenfreada pelas ruas de Nova York. Nos seus últimos minutos, dá lugar a um drama, que permanece sufocado até uma cena final de impacto, onde o cineasta reafirma sua marca.
Reconhecido por explorar as vivências de minorias, como em "Tangerine" (2015), que acompanha a jornada de uma prostituta trans, Sean Baker volta seu olhar, desta vez, para os abismos entre as classes sociais.
O filme se fortaleceu na corrida ao Oscar ao vencer os prêmios dos Sindicatos dos Produtores (PGA) e dos Diretores (DGA), considerados termômetros-chave. A expectativa era que "O Brutalista", de Brady Corbert, levasse esses prêmios.
Conto de fadas às avessas
Anora é o nome da protagonista (que prefere ser chamada de Ani). Ela é interpretada numa ótima atuação de Mikey Madison (Pânico 5), que concorre a Melhor Atriz. Filha de imigrantes, Ani trabalha em uma boate no Brooklyn e é contratada para atender Ivan (Mark Eydelshteyn), um jovem russo.
Entre cenas marcadas por erotismo e impulsividade, ela descobre que ele é filho de um poderoso oligarca — explicação para a mansão em que vive e os gastos extravagantes com bebidas, drogas e outros prazeres.
Ani acaba virando uma "garota fixa" de Ivan e, durante uma viagem em Las Vegas, eles decidem se casar num impulso - algo no estilo de "Se Beber, Não Case", de Todd Phillips.
Esta primeira parte assume o tom de conto de fadas. Embora pudesse ser mais breve, o roteiro preserva a leveza da comédia romântica, preparando o terreno para a reviravolta que virá.
Corrida caótica
Quando os pais de Ivan descobrem o casamento, enviam capangas à mansão — entre eles, Yura Borisov, indicado a Melhor Ator Coadjuvante. O jovem foge, e a trama se desenrola em cenas irreverentes de confrontos físicos, diálogos recheados de palavrões e uma caçada violenta para encontrá-lo.
A todo o momento, a protagonista se mostra destemida, pronta para bater de frente com os capangas e também com o maior desafio: evitar o fim desse casamento. Não que ela esteja realmente apaixonada - embora o filme não entregue exatamente o que ela sente, o que torna tudo mais interessante.
Na reta final, Baker imprime seu olhar social ácido: Ani enfrenta um sistema onde dinheiro e poder são intransponíveis, expondo a brutalidade das dinâmicas de classe. Aqui, o longa até lembra o espírito crítico de "Parasita" (2019), mas com sua identidade própria: uma sátira vibrante, divertida e provocadora.
A dureza de Ani se desfaz na cena final, quando Anora finalmente se revela. O filme vai além de subverter a comédia romântica, oferecendo comentários afiados sobre sonhos, desigualdades e a luta pela sobrevivência. Uma aposta ousada, que tem potencial para brilhar no Oscar.
Confira as categorias em que "Anora" concorre:
- Melhor Ator Coadjuvante, para Yura Borisov
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Edição
- Melhor Atriz para Mikey Madison
- Melhor Direção para Sean Baker
- Melhor Filme