A série "Os Outros", do Globoplay, capturou a atenção dos brasileiros ao demonstrar a escalada de um conflito entre duas famílias em um condomínio de classe média no Rio de Janeiro. Sendo uma alegoria para a nossa atual dificuldade em dialogar como sociedade, o projeto ganhou segunda temporada no formato de antologia - ou seja, uma história a cada temporada. A estreia ocorrerá no dia 15 de agosto.
Agora, encontramos um condomínio de casas de classe alta (o Barra Star Dream) e novos conflitos, além da chegada de novos personagens - embora boa parte do elenco anterior permaneça. Dessa vez, a "guerra" entre vizinhos não começa de forma tão abrupta. O enredo tem um início mais frio e silencioso, explodindo com consequências ainda mais drásticas.
"Na primeira temporada, a série já começava com uma briga. Agora, vamos por outro caminho. O gênero nos ajuda: apostamos no thriller, no suspense e no terror psicológico, entrando em uma ‘virada’ apenas no final", diz o criador e escritor Lucas Paraizo, em uma coletiva virtual com a presença do JC.
"A série surge com uma pergunta: 'Onde está Marcinho?'. Temos um problema novamente, que é uma divisão entre dois terrenos. A segunda temporada tem um entrelaçamento diferente. Aos poucos, as pessoas vão perdendo essa ideia de vilão e mocinho. Acho que isso é a essência da série, algo que atrai, que faz as pessoas perguntarem: quem são essas pessoas? Elas somos nós. São vocês".
Enredo
A trama resgata personagens da primeira temporada, como Cibele (Adriana Esteves), Amâncio (Thomás Aquino), Marcinho (Antonio Haddad), Sérgio (Eduardo Sterblitch), Lorraine (Gi Fernandes) e Joana (Kênia Bárbara).
O ponto de partida para esta sequência é a busca incansável de Cibele por seu filho desaparecido, Marcinho. "Essa foi a primeira vez que eu repito um personagem, então foi bem desafiador. Nunca fiz nenhuma série com segunda temporada, com a continuação do personagem. Como contar a história dessa mulher dois anos depois? Com algo muito trágico, que foi o desaparecimento do filho? Foi diferente, um certo susto, mas foi deliciosamente desafiador", diz Adriana Esteves.
Outro destaque é a mudança de Sergio, o vizinho miliciano da primeira temporada, para seu novo condomínio, além de sua eleição à Câmara dos Vereadores, após ter sido inocentado na justiça.
"Temos um grande arco. Revelamos essa entrada da milícia. O suspense fica ainda maior, mas não procuramos chegar em algum lugar inverossímil. É tudo o que a gente não quer. A dramaturgia tem um conceito: os conflitos e os seus desdobramentos, mas com muita verdade. Queremos que o público veja aquilo e sinta a verdade para se identificar, para questionar e enxergar os fatos", diz a diretora artística de Luísa Lima.
Milícia
Eduardo Sterblitch, que vive Sérgio, evita a pecha de vilão para o personagem. "Todo mundo tem um Sérgio dentro de si. A gente é maneiro e é o pior possível no mesmo dia. A gente se defende, mesmo quando a gente não tem orgulho de quem a gente é", disse.
"O mais difícil de se fazer um personagem nesse estilo é que as pessoas têm inveja de quem é livre. Mesmo que ele não tenha um caráter admirável, ele desperta inveja por ser ele mesmo. Todo mundo quer se entender e se encontrar. O Sérgio não liga para as instituições e agora ele faz parte disso, pois é político. Ele faz parte das instituições porque sabe que elas não funcionam. Só funciona para quem faz parte delas", diz.
Os caminhos desses personagens da primeira temporada se cruzam com os de Raquel (Letícia Colin), Paulo (Sérgio Guizé), Maria (Mariana Nunes), Seu Durval (Luis Lobianco), entre outros, no Barra Star Dream. Agora, um assunto em particular virá à tona: o tema do perdão.
"Trouxemos referência de cineastas como David Lynch e Lars Von Trier, que são cineastas que trabalham a questão da diferença do tempo. Existem muitas outras referências de outras séries para conversar nesse contemporâneo. A literatura é muito aberta para tudo o que está se passando no nosso contexto de época, país, cultura e arte. Acho que talvez tenhamos também uma coisa meio Almodóvar: a gente assume o lugar de que precisamos ser absurdos", diz Luísa Lima.
A segunda temporada de "Os Outros" ainda tem produção de Luciana Monteiro e direção de gênero de José Luiz Villamarim. A primeira temporada completa está disponível no Globoplay.