Esgotamento, falta de concentração e de sono: Pesquisa avalia saúde mental de delegados em Pernambuco
Mais de 41% dos profissionais revelaram que estão esgotados emocionalmente por causa do trabalho. E mais de 82% sentem que o trabalho nunca termina

Uma pesquisa inédita joga luz ao problema do adoecimento mental dos delegados da Polícia Civil de Pernambuco, sobretudo por causa da sobrecarga de trabalho e do forte estresse inerente à profissão. No estudo, mais de 41% afirmaram estar esgotados emocionalmente. E 79% disseram estar com dificuldades de concentração.
"Os números mostram uma realidade que não podemos mais ignorar. Delegados sobrecarregados emocionalmente impactam diretamente a segurança pública. Precisamos romper com o silêncio e adotar medidas concretas para proteger a saúde mental desses profissionais", avaliou a vice-presidente da Associação dos Delegados e Delegadas de Polícia de Pernambuco (Adeppe), Cláudia Molinna, autora da pesquisa.
O déficit de mais de 220 vagas para delegados em Pernambuco tem forte impacto no excesso de trabalho. Outro problema, segundo o estudo, é que 16,3% dos profissionais na ativa estão à frente de cargos administrativos. Na avaliação da associação, é preciso uma reordenação do efetivo, para que mais delegados exerçam a atividade-fim.
LICENÇAS MÉDICAS
Cerca de 54% dos delegados também disseram sofrer com alterações no sono. E 82,3% declararam que, para eles, o trabalho nunca termina.
O chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Renato Rocha, reconheceu o problema.
"A gente vem recebendo várias licenças médicas por questões de saúde mental, então é algo que a gente precisa se debruçar e tentar corrigir e minimizar o estresse da profissão na vida pessoal do colega do efetivo", declarou.
O estudo propõe soluções para minimizar o estresse dos delegados. Entre as medidas está o monitoramento da frequência cardíaca, padrões de sono e níveis de estresse dos profissionais. Além disso, a implementação de um acompanhamento médico e exames periódicos para identificação precoce de sinais de esgotamento, com check-ups regulares.
A Adeppe também sugere "uma nova cultura de liderança", com capacitação em inteligência emocional para delegados-chefes, com o objetivo de que eles possam identificar sinais de esgotamento precoce entre os profissionais, criando um ambiente de trabalho mais equilibrado.
ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL
Um grupo de trabalho com integrantes da Adeppe e da Polícia Civil discute ações para melhoria da saúde mental dos delegados. A criação de policlínica também está em andamento, com a promessa de atendimento aos profissionais que necessitem de apoio psicológico/psiquiátrico.
Em agosto do ano passado, o governo estadual firmou convênio com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, responsável pelo programa Escuta Susp, voltado ao atendimento psicológico dos profissionais da segurança.
Pernambuco foi o quinto estado brasileiro a aderir ao programa, que é uma parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), referência em prevenção ao suicídio. O agendamento da consulta on-line deve ser feito no site gov.br/escutasusp.
ATAQUE, MORTES E SUICÍDIO EM BATALHÃO DA PM
A discussão sobre a saúde mental dos profissionais da segurança pública ganhou mais atenção, nos últimos anos, após casos de ataques em delegacias e batalhões seguidos de suicídio dos autores.
Em dezembro de 2022, o soldado Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, matou a tiros a companheira, Cláudia Gleice da Silva, 33, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife.
Em seguida, o soldado rendeu um motorista de aplicativo e o obrigou a seguir até o bairro do Pina, Zona Sul do Recife, onde fica o 19º Batalhão da PM. Lá, atirou nos colegas e depois cometeu suicídio, segundo a investigação. Além dele, dois policiais morreram e dois ficaram feridos.