INVESTIGAÇÃO | Notícia

Policial penal intermediava liberação de carros apreendidos em delegacia no Recife, apontam mensagens

Conversas entre um presidiário e Newson Motta da Costa Neto, preso na operação que apura corrupção no Presídio de Igarassu, indicam as irregularidades

Por Raphael Guerra Publicado em 11/03/2025 às 10:19

No parecer favorável às prisões preventivas de policiais penais do Presídio de Igarassu, no Grande Recife, alvo de operação em 25 de fevereiro, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) apresentou mensagens que indicam que um dos suspeitos intermediava irregularmente a liberação de carros apreendidos no Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri). 

De acordo com o MPPE, o presidiário Lyferson Barbosa da Silva, que liderava um pavilhão do Presídio de Igarassu e mantinha contato por meio do WhatsApp com os policiais penais, solicitou a Newson Motta da Costa Neto que o ajudasse na liberação de um Peugeot de cor vermelha, sob a guarda do Depatri, localizado no bairro de Afogados, Zona Oeste do Recife. A mensagem foi enviada em 2022. 

"Mano vei a gente foi ontem la no amigo pra falar se tinha como da uma força pra vê se soltava o carro do mano vei da gente lá o Peugeot vermelho. Aí ele disse q chegando no senhor o senhor dizia se tinha como. Será que o senhor tinha como da essa força lá nessa situação?", perguntou Lyferson ao policial penal.

Os erros de digitação e ortografia foram mantidos na transcrição da mensagem, obtida pela coluna Segurança.

"Boa tarde. Tem sim", respondeu o policial, segundo relatório da Polícia Federal. 

REPRODUÇÃO
Mensagens fazem parte da investigação de corrupção no Presídio de Igarassu - REPRODUÇÃO

Em uma das conversas descobertas, de 19 de janeiro de 2022, Lyferson afirmou a um destinatário que o policial penal era filho de um delegado do Depatri e que "ele vai segunda resolver".

Newson Neto é filho do delegado aposentado Newson Motta da Costa Júnior, que já atuou como gestor da unidade especializada. Essa informação consta no inquérito da Polícia Federal e no parecer do MPPE.

Não há, porém, indicativo de que o delegado ajudou de alguma forma o filho na liberação irregular de veículos, nem que tivesse conhecimento dessa prática. 

O MPPE também afirmou, no parecer, que outras mensagens de WhatsApp encontradas no celular de Lyferson reforçaram a relação do presidiário com o policial penal. 

"Foi identificado, também, o envolvimento do policial penal Newson Motta, que, conforme as conversas encontradas, passava informações para Lyferson, fazia com que as drogas entrassem no presídio e fazia buscas em bancos de dados em favor da organização criminosa", pontuou o MPPE.

Questionada pela coluna se a suposta liberação irregular de veículos no Depatri seria investigada, a assessoria da Secretaria de Defesa Social declarou, em nota oficial, que "a Corregedoria Geral da SDS solicitou à Justiça o compartilhamento dos dados da investigação para instalar o processo administrativo".

CORRUPÇÃO NO PRESÍDIO DE IGARASSU

Newson Neto foi um dos oito policiais penais presos preventivamente na Operação La Catedral - incluindo Charles Belarmino de Queiroz, que exerceu a função diretor do Presídio de Igarassu de 1º de abril de 2016 até o final de 2024.

As investigações da Polícia Federal indicaram que o ex-diretor e os policiais penais liberavam festas e a entrada de pessoas não autorizadas na unidade prisional, incluindo garotas de programa, a pedido de Lyferson. Também teriam liberado drogas, celulares e outros materiais irregulares. Até um laboratório de produção de crack foi encontrado em um espaço cultural da unidade prisional. 

Em troca, os profissionais da segurança recebiam dinheiro via Pix, comida e outros tipos de propina. 

Na operação, outro policial penal e uma dentista que atuavam no presídio foram afastados das funções públicas por determinação da Justiça. 

Em nota, o Sindicato dos Policiais Penais de Pernambuco afirmou que o departamento jurídico acompanha os desdobramentos da operação, garantindo o direito dos profissionais, mas que "não compactua com qualquer conduta que possa configurar desvio de função ou prática criminosa". 

Compartilhe