Linchamento em Tabira: 'Ele tinha o direito de defesa', diz irmão de suspeito de matar criança
Irmão de Antônio Lopes Severo, morto por populares na terça, disse que policiais foram omissos e que deveriam ter deixado suspeitos em outra cidade

O linchamento do homem suspeito de matar o menino Arthur Ramos Nascimento, de 2 anos, no município de Tabira, no Sertão de Pernambuco, continua trazendo desdobramentos. Em entrevista à TV Jornal Interior, o irmão de Antônio Lopes Severo, de 42 anos, conhecido como Frajola, declarou que ele deveria ter tido direito a se defender. E que os policiais foram omissos ao levarem os suspeitos para a cidade onde o crime ocorreu.
"Um policial foi lá em casa dizer que eles (suspeitos) iam para a Delegacia de Afogados da Ingazeira. Quando a gente menos espera, aparece um vídeo dele chegando em Tabira e aconteceu o que aconteceu. Eu acho que até que se prove o contrário, ele tinha o direito de defesa. E, antes disso, ele tinha que esperar o resultado da perícia. Estava nas mãos da Justiça. Houve omissão dos policiais", afirmou Paulo Lopes, irmão do suspeito linchado.
"Se estava em Afogados da Ingazeira, porque não deixou lá? O que vi foi omissão, uma tragédia aquela. Se ele deve, tem que pagar. Agora não daquela forma. Se esse homem foi inocente? Quem é a população para julgar? O menino chamava ele de pai. Ele adorava o menino", completou Paulo.
GOVERNADORA FALA EM "BARBÁRIE"
Nesta quarta-feira (19), a governadora Raquel Lyra classificou as cenas de linchamento como uma "barbárie". O suspeito de violentar e assassinar o menino foi retirado da viatura da Polícia Civil por populares e agredido até a morte.
"É lamentável que a gente veja cenas como esta. A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social já instaurou inquérito para poder apurar esse caso e enxergar os erros que aconteceram. A população não pode revidar com linchamento, o que foi uma barbárie que foi acometida", disse Raquel, no Palácio do Campo das Princesas.
"O sentimento de justiça aflora muito, especialmente quando se trata de um crime contra uma criança, mas o Estado precisa fazer o seu papel. Não só de investigação ao crime acontecido contra a criança, mas também a instauração para apurar a conduta dos envolvidos no linchamento", afirmou.
A mulher suspeita de ter participado do crime, Giselda da Silva Andrade, 30, também ficou ferida. Ela foi levada para uma unidade de saúde, onde foi atendida e já recebeu alta. Ela está em um presídio feminino, mas o nome não será revelado pelo governo estadual por motivo de segurança.
A criança foi encontrada morta e com indícios de violência física e sexual no último domingo. Uma vizinha prestou socorro e acionou a polícia.
A mãe de Arthur estava em outro Estado e deixou a criança sob os cuidados de Antônio e Giselda, que eram considerados amigos dela.
De acordo com a delegada Joedna Soares, o casal já tinha antecedentes criminais e havia sido preso anteriormente por homicídio e tráfico de drogas.
INVESTIGAÇÃO
A Polícia Civil informou que instaurou inquérito para apurar o linchamento e identificar quem participou da ação. "A conduta do policiamento também será apurada", reforçou a nota oficial.
Além disso, a Delegacia de Tabira vai continuar investigando o assassinato de Arthur. A delegada Joedna Soares descartou a participação da mãe do menino no crime.