Papa Francisco: pneumologista explica o que é infecção respiratória polimicrobiana
Pontífice continua sem febre e prossegue com a terapia prescrita. A condição clínica é estável, segundo informa a sala de imprensa da Santa Sé

Um quadro de infecção respiratória polimicrobiana exigiu, nesta segunda-feira (17), uma mudança adicional no tratamento seguido pelo papa Francisco, de 88 anos.
Segundo o Vaticano, o pontífice argentino apresenta um "quadro clínico complexo", que exige mais cuidados especializados. Ele foi internado no Hospital Gemelli, em Roma, na última sexta-feira (14), com sintomas sugestivos de bronquite.
O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, disse que os resultados dos exames realizados nos últimos dias indicam que o papa está com uma infecção respiratória polimicrobiana.
Na tarde desta segunda-feira (17), a sala de imprensa da Santa Sé comunicou que "o Santo Padre continua apirético (sem febre) e prossegue com a terapia prescrita. Sua condição clínica é estável. Esta manhã, ele recebeu a Eucaristia e depois se dedicou a algumas atividades de trabalho e à leitura de textos".
O que é infecção polimicrobiana?
Ao JC, o pneumologista Alfredo Leite explica que a infecção respiratória polimicrobiana é um quadro causado por mais de um agente, como bactérias e/ou vírus. "A maior parte das pneumonias é atribuída a um patógeno só. Cerca de 70% das vezes, há o envolvimento de bactérias; em 30%, de vírus. Eventualmente, é possível ter um conjunto de bactérias ou bactérias e vírus", diz Alfredo, que é chefe da Pneumologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no Recife.
O médico ressalta que, entre os pneumologistas, quando se fala sobre infecção respiratória polimicrobiana, logo se pensa em infecção por mais de uma bactéria. Não se sabe, contudo, se seriam exatamente esses os agentes envolvidos no quadro de saúde do papa Francisco.
"A infecção respiratória polimicrobiana é mais frequente em pessoas que sofreram algum tipo de aspiração (uma infecção bacteriana nos pulmões causada pela inalação de conteúdo do estômago ou da boca). São situações em que entra uma série de bactérias da cavidade oral para o pulmão. É uma pneumonia por vários patógenos ao mesmo tempo", destaca Alfredo.
O pneumologista frisa que as pessoas muito idosas (a partir dos 80 anos) e as que têm doenças de base, especialmente as neurológicas, são mais susceptíveis a ter quadros mais intensos de aspiração. Nos casos de infecção respiratória polimicrobiana, segundo o médico, prescreve-se um perfil de antibióticos diferente daqueles indicados para quadros habituais de pneumonias bacterianas.
"Isso não quer dizer, contudo, que o quadro de infecção respiratória polimicrobiana seja mais grave. Uma vez iniciada a medicação (em tempo oportuno), é possível ter a chance de controlar o estado de saúde", acrescenta Alfredo Leite.
"Papa está comovido com mensagens de afeto"
Em comunicado, a sala de imprensa da Santa Sé informa que o papa Francisco "está comovido com as numerosas mensagens de afeto e proximidade que continua recebendo nestas horas; em particular, deseja agradecer àqueles que estão atualmente hospitalizados pelo carinho e amor que expressam através de desenhos e mensagens de pronta recuperação; reza pelos doentes e pede orações por ele".
No domingo (16), o papa deixou de presidir a oração semanal do Angelus pela primeira vez. A Santa Sé confirmou o cancelamento apenas de compromissos desta segunda-feira (17). O papa deveria ter ido aos estúdios de cinema de Cinecitta, em Roma, para se encontrar com artistas como parte das celebrações do Ano Santo da Igreja Católica.
O papa teve parte de um pulmão removida após infecção pulmonar quando jovem. Quando teve um grave caso de pneumonia em 2023, ele saiu depois de três dias e só disse depois que havia sido internado urgentemente por se sentir fraco e com dor no peito.
Neste recente episódio, Francisco insistiu em terminar suas audiências matinais de sexta-feira (14), antes de deixar o Vaticano, mesmo com dificuldades para falar devido à falta de ar.
'Hospital dos papas'
O Hospital Policlínico Universitário Agostino Gemelli, em Roma, onde está internado o papa Francisco desde a última sexta-feira (14), é considerado o maior da capital italiana.
Criado em 1964, o nome do hospital é uma homenagem ao teólogo franciscano Agostino Gemelli, que fundou a Universidade Católica na década de 1920.
O terreno para o hospital foi doado pelo papa Pio 11 no início do século 20 para a Faculdade de Medicina da Universidade Sagrado Coração.
No 10º andar do prédio, está o apartamento privado dos papas. O espaço tem 200 metros quadrados, quartos para acompanhantes e assistentes, além de uma capela.
O papa Francisco já esteve no Hospital Gemelli em julho de 2021, quando foi submetido a uma intervenção cirúrgica devido a uma diverticulite. A segunda vez foi em março de 2023, quando ficou hospitalizado para tratar uma bronquite infecciosa. A terceira, em junho de 2023, ocorreu quando ele foi operado em decorrência do risco de obstrução intestinal.