Cerca de 2.300 profissionais estão mobilizados, desde a quarta-feira (5), na força-tarefa para minimizar os impactos das fortes chuvas no Recife. Outros milhares de agentes também atuam nas ocorrências em Camaragibe, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista - municípios do Grande Recife.
Somente o Corpo de Bombeiros, nas últimas 48 horas, resgatou mais de 350 pessoas. As ocorrências resultaram, até o momento, em sete mortes e deixaram centenas de pessoas desabrigadas.
Nesses momentos de crise, os socorristas emergem como profissionais essenciais para salvar vidas.
As operações de resgate são complexas. Muitas vezes, é preciso chegar a áreas alagadas, de difícil acesso, em meio a estruturas comprometidas que podem desabar a qualquer momento. Os agentes de resgate passam por treinamentos para enfrentar cenários de desastres e utilizam técnicas especializadas de salvamento e primeiros socorros.
"Precisamos enfrentar uma limitação importante, que é a dificuldade de chegar aos locais das ocorrências. Quando a água sobe muito, a ambulância não consegue passar. Então, existe todo um processo para atender vítimas em situações como essa", diz o coordenador-geral do Samu Metropolitano do Recife, Leonardo Gomes.
Os profissionais que atuam na linha de frente em períodos de chuvas intensas parecem operar no automático, guiados pela disciplina, foco e rapidez na tomada de decisões para preservar vidas e proteger a população.
"Costumo dizer que, depois de atuar na Defesa Civil, ninguém jamais verá um dia de chuva da mesma forma. A chuva nunca mais será apenas chuva; é sempre um alerta. A chuva traz sempre ansiedade e apreensão para gente", declara a assistente social Ingrid Rocha, analista da Defesa Civil do Recife.
Ela tem trabalhando, durante estes dias de chuvas intensas, na regional que atende Passarinho, bairro da Zona Norte da cidade. Foi lá onde houve uma ocorrência grave: uma queda de barreira que atingiu uma residência e resultou na morte de duas mulheres. "Estou em atuação no local do acidente para orientar e sensibilizar quem mora próximo ao local do sinistro sobre os riscos. São famílias que estão indo ficar na casa de parentes ou aos abrigos disponibilizados pela prefeitura."
Além dos desafios físicos para quem trabalha diretamente no resgate, há o impacto emocional. Muitos socorristas lidam com a dor de resgatar pessoas, algumas vezes conhecidas, o que adiciona um peso psicológico significativo ao trabalho.
"Quase sempre é uma carga emocional muito grande. Criam-se vínculos porque geralmente os profissionais que fazem vistorias frequentes no território conhecem os moradores. Assim, quando ocorre algo fora do padrão, toda a equipe da Defesa Civil se mobiliza. Uma chuva mais forte, por exemplo, é um grande alerta para nós, trabalhadores. Logo nos lembramos das pessoas dessas áreas que conhecemos", afirma Ingrid.
Apesar dos perigos, a missão de salvar vidas fala mais alto. Cada resgate bem-sucedido, cada família reunida para atuar em ação preventiva, cada vida salva renovam o compromisso desses profissionais. "Enfrentamos desafios, mas é sempre muito gratificante saber que o nosso trabalho contribui para redução de desastres e proteção da população", frisa Ingrid.
Balanço das chuvas no Recife
Nas últimas 24 horas, o acumulado de precipitação chegou a quase 200 milímetros, o que configura a maior chuva já registrada no mês de fevereiro em toda a história da capital pernambucana.
A média histórica para o todo mês é de 91,4 milímetrios e a máxima nesse período, antes, ocorreu em 2009, com 122,8 milímetros em 24 horas.
Apesar da previsão de diminuição das chuvas, a saturação do solo segue como um fator de risco, principalmente para áreas de morro e encostas, o que aumenta a possibilidade de deslizamentos.
Diante disso, é importante reforçar a recomendação para que a população evite deslocamentos e, em caso de necessidade, procure locais seguros, seguindo as orientações da Defesa Civil.
Desde o início das chuvas, a Defesa Civil do Recife recebeu, até o momento, 613 chamados. Entre eles, 248 foram registrados a partir da meia-noite desta quinta-feira (6). As solicitações incluem pedidos de colocação de lonas e vistorias em áreas de risco.
No Recife, até as 14h desta quinta-feira, 199 pessoas estão acolhidas em quatro abrigos municipais, localizados no Oratório da Divina Providência (Campina do Barreto), CSU Bidu Krause (Curado), Igreja Batista do Coqueiral (Coqueiral) e Igreja Batista do Caçote (Areias).
A Defesa Civil do Recife segue disponível 24h para a população, pelo telefone 0800 0813400 para qualquer emergência.
Em caso de emergência, pode-se acionar ainda outros canais oficiais de atendimento: 193 (Corpo de Bombeiros) e 199 (Defesa Civil de Pernambuco), além do 192 (Samu).