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Estratégico nos negócios, exigente nas práticas de controle e cortês no relacionamento, Cornélio Brennand cultivava a discrição

Empresário tinha negócios na área de energias renováveis, vidros, desenvolvimento imobiliário, hotelaria e até cimento, com atuação em vários estados

Por Fernando Castilho Publicado em 05/02/2025 às 12:00

O empresário Cornélio Brennand, que nos deixou nesta quarta-feira (5), cultivava hábitos tão discretos que quando recebeu o escritor Ignácio de Loyola Brandão para escrever a história de 100 anos do grupo empresarial que levava seu nome, fez apenas um pedido: não aprofundar no texto final detalhes da intimidade de sua família.

Cornélio liderou, com o primo Ricardo, as operações do então Grupo Brennand até 2000, quando as duas famílias resolveram cuidar de negócios apartados que originaram os grupos Cornélio Brennand e Ricardo Brennand.

Era casado com Helena Carneiro da Cunha e pai de Luiz Felipe (falecido em 2012), Helena, Cornélio Filho, Mariana, Carlos Eugênio, Tereza e Maria Eduarda.

Foi quando Cornélio decidiu criar sua própria marca, definir as áreas onde deveria atuar e cuidar de preparar a companhia para o futuro, celebrando o acordo de acionistas que até hoje é um marco no setor de gestão de famílias empresárias no Brasil.

Na verdade, o modelo de governança desenhado sob comando direto do empresário é estudado por dezenas de outras companhias pelos avanços que introduziu quando sequer a sigla ESG (Environmental, Social and Governance), na tradução livre de Ambiental, Social e Governança, estava em evidência. Virou referência.

O GCB foi uma das primeiras organizações a implantar um programa estruturado de governança corporativa, com adoção de melhores práticas de governança há mais de uma década, com foco inicial na Governança Familiar e posteriormente na Governança Corporativa, que evoluiu para uma estrutura de Governança do Grupo conta com Conselho de Família, de Administração, Comitês de Assessoramento e Conselho de Sócios com suporte de um robusto Programa de Compliance e de ESG.

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A Casa de Ferro – Iron House em inglês – foi projetada na Bélgica pela Compagnie Central de Construction de Haine-Saint-Pierre. - DIVULGAÇÃO

A cultura da discrição entre os “Cornélios” é tão forte que poucas pessoas sabem que ele bancou pessoalmente o projeto de requalificação e atualização da instalações da Oficina Cerâmica Francisco Brennand, criada pelo seu irmão, o artista plástico Francisco Brennand, no bairro da Várzea, e que hoje, ao lado do Instituto Ricardo Brennand (IRB), são referências nas artes plásticas de Pernambuco.

Atuação em diversos segmentos

O Cornélio Brennand está hoje na quarta geração; é liderado pelo empresário Cornélio Filho, e seu padrão de governança - apesar do sucesso junto às consultorias de sucessão de famílias de empresários - continua sendo com evidenciar para o público o padrão das empresas que atuam nos segmentos de energia renovável, vidros planos, desenvolvimento imobiliário (que inclui o projeto do JW Marriott na Avenida das Nações Unidas em São Paulo) e o icônico Paiva, o primeiro bairro planejado na Região Metropolitana do Recife, e até uma participação numa planta de cimento e associação como o Grupo Queiroz Galvão, no Maranhão, com a marca Cimento Bravo.

Hoje, o CCB, através da Atiaia Renováveis, é integralmente destinado a fontes limpas de energia, e tem 13 usinas em operação e três pré-operacionais capazes de gerar 421 MW (320 MW em operação + 101 MW pré-operacionais) nos estados de BA, GO, MT, MS e PE, com receita líquida de aproximadamente meio bilhão de reais (R$ 367 MM em dados de 2022).

Cornélio Brennand também liderou um movimento para voltar ao setor vidreiro em 2014 depois que vendeu a tradicional empresa CIV ao grupo americano OI Owens-Illinois em 2010, com o projeto VIVIX localizada no município de Goiana (PE), uma das mais modernas fábricas de vidros planos do mundo e a única no país com capital 100% nacional.

Ele fez um investimento superior a R$ 1 bilhão para uma planta que tem, além da unidade fabril, com uma usina própria de beneficiamento de matérias-primas, situada a 12KM da fábrica, no município de Pedra de Fogo (PB).

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A vIVIX TEM capacidade de produção para 1.900 tons/dia, passando a ser a segunda maior empresa do setor no mercado brasileiro. - DOVULGAÇÃO

A VIVIX produz vidros planos incolores, coloridos, laminados, pintados, de proteção solar e espelhos, tendo como principal mercado os setores de construção civil e moveleira. Com capacidade de produção de 900 toneladas/dia, conta com uma área construída de 90 mil m² e utiliza tecnologia pioneira para fabricação de vidros planos.

Recentemente, anunciou a implantação de um novo forno com capacidade de produção equivalente a 1 mil toneladas por dia, que será o maior do setor em operação no país e um dos maiores do mundo. Com a expansão, a VIVIX ampliará sua capacidade de produção para 1.900 tons/dia, passando a ser a segunda maior empresa do setor no mercado brasileiro.

Dentro do projeto de ESG do GCB, a fábrica da VIVIX utiliza tecnologia pioneira no Brasil, a L.E.M.™ (Low Energy Melter™) –que possibilita à empresa um processo de produção eficiente do ponto de vista energético.

Setor imobiliário

Com mais de 100 anos completados em 2017, o empresário Cornélio Brennand deixou sua marca quando decidiu entrar na área de real estate Iron House, em 2011.

A marca da Iron House, uma empresa de desenvolvimento, investimento e gestão de ativos imobiliários presente nos estados de Pernambuco, Bahia e São Paulo para cuidar do próprio land banks, representa a icônica casa da família onde ele morou.

A Casa de Ferro (Iron House, em inglês) foi projetada na Bélgica e trazida para o Engenho São João em 1892, período áureo da economia pernambucana, é cercada por um jardim de Roberto Burle Marx, e foi classificada como Patrimônio Histórico em julho de 1980.

No portfólio da empresa, além do Paiva, está o desenvolvimento em Camaçari na Bahia, da Reserva Camassarys, numa área de 528 mil metros quadrados, entre os principais acessos da cidade: a Via Parafuso (BA-535) e a Avenida Jorge Amado. E o projeto em São Paulo do JW Marriott São Paulo, com 254 quartos e 1.200 m² de salas para conferências e eventos e residências de luxo.

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