Notícias sobre educação e formação profissional

Enem e Educação

Por Mirella Araújo e equipe
Ensino Técnico

Especialistas discutem o futuro da educação profissional e os desafios do mercado de trabalho

Festival Trampos do Futuro trouxe palestras, oficinas e espaços interativos repletos de oportunidades para impulsionar a carreira dos jovens

Cadastrado por

Mirella Araújo

Publicado em 20/02/2025 às 17:47 | Atualizado em 20/02/2025 às 17:50
Itaú Educação e Trabalho promoveu, em São Paulo, o evento gratuito "Trampos do Futuro: arte, cultura e educação - Agência Ophelia

No ano em que o Congresso Nacional irá votar o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que terá vigência por dez anos, e em que a construção e implementação da Política Nacional de Educação Profissional e Tecnológica devem estar alinhadas a essas novas metas, torna-se ainda mais necessário integrar e fortalecer o acesso a uma formação profissional de qualidade, alinhada às novas necessidades do mundo do trabalho e às demandas sociais.

No Brasil, 9,8 milhões de jovens de 15 a 29 anos – o equivalente a 19,9% da população nessa faixa etária – não concluíram a educação básica. Os dados são da pesquisa Juventudes Fora da Escola, realizada pelo Itaú Educação e Trabalho e pela Fundação Roberto Marinho, que também aponta que 27% desses jovens não pretendem concluir os estudos. As principais razões para essa decisão são a necessidade de trabalhar (32%) e a obrigação de cuidar da família (17%).

Diante desse cenário, o que se torna essencial discutir? Além de garantir uma formação profissional qualificada, é fundamental criar oportunidades.

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“Nós precisamos trazer o mundo do trabalho para o ensino médio. O aluno chega a essa etapa e não sabe, por exemplo, o que é uma carreira pública, o que significa empreender ou como atuar nos diferentes setores”, afirma Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho.

“Precisamos desenvolver políticas públicas voltadas para a juventude e, nesse contexto, a educação nacional desempenha um papel fundamental no desenvolvimento dos jovens, pois estabelece uma conexão com o mundo do trabalho”, destaca.

Ana ressalta ainda que o ensino técnico não se contrapõe ao ensino superior, mas que é importante repensar a formação profissional, garantindo a todos os jovens do país a possibilidade de continuidade do seu desenvolvimento profissional, seja pela universidade ou por um conjunto de formações que ele poderá fazer ao longo da vida, mas que lhe darão um outro nível de conhecimento.

Economias do futuro

A educação profissional hoje não segue mais o modelo existente no século passado. Agora, essa etapa se tornou apenas um degrau dentro de uma formação que se atualiza constantemente, acompanhando as mudanças nas áreas de conhecimento e, consequentemente, nas profissões do futuro.

Promovido pelo Itaú Educação e Trabalho, uma organização da Fundação Itaú, o festival Trampos do Futuro: Arte, Cultura e Educação trouxe para o debate as economias do futuro e suas respectivas tendências de mercado. Durante os dois dias de evento, encerrado nesta quinta-feira (20) na Fundação Bienal, em São Paulo, especialistas discutiram como as economias Sustentável, Prateada, do Cuidado, Criativa e Digital se conectam e podem gerar inúmeras oportunidades para a juventude.

“Esse é o primeiro evento da Fundação Itaú para jovens, mas a agenda para as juventudes ligadas ao trabalho ainda é muito empobrecida. Então, quando fazemos um evento com as experiências de jovens e as perspectivas das novas economias, o que nos surpreende é ver o interesse que eles estão tendo pelas palestras que falam de questões importantes das economias do Brasil”, disse Ana Inoue.

Esse mapeamento permite o planejamento de estratégias que gerem oportunidades de inclusão produtiva dos jovens no mundo do trabalho.

Quando falamos em Economia Criativa, por exemplo, estamos nos referindo à produção e distribuição de bens e serviços culturais, artísticos e de entretenimento. Isso inclui indústrias como comunicação, audiovisual, design, mídia digital e artes. Dados da Unesco mostram que 3% do PIB global é representado pelo setor criativo, que emprega cerca de 30 milhões de pessoas. Já o Banco Mundial aponta que, em 2023, o mercado global de jogos digitais movimentou mais de 180 bilhões de dólares.

A Economia do Cuidado, que abrange todas as atividades relacionadas ao bem-estar das pessoas, incluindo saúde, educação, assistência social e serviços domésticos, é uma das áreas de maior crescimento global. Segundo a OIT, 475 milhões de empregos no mundo podem ser gerados pelo setor de cuidados até 2030.

 

Ana Inoue, superintender do Itaú Educação e Trabalho - Agência Ophelia

Qualidade na formação

O que tem sido colocado como uma discussão emblemática diante de tantos números e cenários não é a demanda por profissionais em termos de quantidade, mas sim a qualidade dos perfis que estão sendo formados para atuar nesse mercado.

“O Brasil precisa entrar nesse tipo de discussão. Não estou dizendo que não precisamos de um grande número de trabalhadores, mas, ao mesmo tempo, não podemos desconsiderar a necessidade da qualidade e de perfis cada vez mais adequados ao mercado de trabalho”, destacou Rodrigo Veloso, do Centro Universitário do Senai São Paulo, sob a perspectiva das oportunidades no âmbito industrial.

Nesse aspecto, ele chama a atenção para o alinhamento entre a formação profissional e a formação básica. “Se os jovens vêm com uma formação básica profundamente fragmentada, é mais difícil chegarmos à formação profissional desejável no futuro. Então, eventualmente, os entes de formação profissional precisarão de muito tempo para complementar essa formação, que, na verdade, deveria vir da educação básica”, afirmou Veloso, pró-reitor de graduação do Senai São Paulo.

Itaú Educação e Trabalho promoveu, em São Paulo, o evento gratuito "Trampos do Futuro: arte, cultura e educação - Jardiel Carvalho

Inovação e Inteligência Artificial

Dados do relatório Inteligência Artificial 2024: Pesquisa exclusiva sobre a percepção e usos da inteligência artificial no Brasil, da empresa Opinion Box, mostram que 39% das pessoas de 16 a 19 anos usam algum tipo de IA todos os dias. O estudo aponta ainda que cerca de 62% concordam que não aprender a usar IA pode ser uma desvantagem no mercado de trabalho.

Ou seja, o uso dessa tecnologia tem transformado não só as formas de interação, mas seus impactos já são sentidos tanto na aprendizagem quanto no mundo do trabalho.

A OIT aponta que, entre 2016 e 2021, houve um crescimento de 74% na demanda por especialistas em IA. Aprofundar esse conhecimento também tem se tornado mais comum no ensino técnico, com a implementação de projetos de inteligência artificial dentro do contexto educacional.

Alunas da Escola Técnica Estadual (ETEC) Professora Maria Cristina Medeiros, de Ribeirão Pires, em São Paulo, criaram o projeto Jumpai: Jogo interativo para crianças com mobilidade reduzida. Desenvolvido há um ano pelas alunas Giovana Rocha Souza, Ana Laura Vicentine Ribeiro e Thifany Garcia da Conceição, o Jumpai teve como orientadora a professora Cíntia Pinho.

“A ideia surgiu de uma amiga pedagoga que tinha um aluno cuja dificuldade inicial era a alfabetização. Em 2022, quando conhecemos Gianlucca Trevellin [diagnosticado com Atrofia Muscular Espinhal], desenvolvemos para ele o primeiro projeto, que foi o *Pisque Aí*, para que ele pudesse ser alfabetizado a partir do movimento ocular”, explicou a professora.

No entanto, Gianlucca tinha outra dificuldade relatada por sua mãe: a falta de jogos adaptados para sua mobilidade reduzida. O menino chorava muito quando via outras crianças jogando.

“Nós criamos uma plataforma acessível financeiramente para essas crianças, mas que também fosse interativa, permitindo que elas jogassem de qualquer lugar. A plataforma conta com três opções de controle: pelo teclado, por uma luva com sensor de conexão que captura os movimentos da mão ou pelo controle ocular, utilizando visão computacional”, explicou a estudante Giovana Rocha.

Em um dos jogos, a criança precisa capturar os planetas na ordem em que eles se encontram no sistema solar. “Se ela pegar um planeta certo, vai montando o sistema. Se pegar errado, perde uma vida. O jogo possui níveis fácil, médio e difícil”, completou.

O protótipo foi desenvolvido em atividade extracurricular, como uma pré-iniciação científica, pois os alunos não têm aula de inteligência artificial. “Hoje, temos acesso fácil à informação na internet para aprender. Então, basta querer e ter um incentivo, como um professor na sala de aula que, mesmo sem conhecimento prévio em IA, esteja disposto a aprender junto com os alunos”, destacou a orientadora do Jumpai.

*A titular da coluna Enem e Educação viajou a convite da organização Itaú Educação e Trabalho

 

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