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Enem e Educação

Por Mirella Araújo e equipe
JEDUCA

Especialistas falam sobre os desafios da emergência climática nas escolas

Debate no Congresso Internacional de Jornalismo de Educação destaca a necessidade de ações para enfrentar efeitos das mudanças climáticas nas escolas

Cadastrado por

Mirella Araújo

Publicado em 02/09/2024 às 22:27
A secretária de Educação do Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira, mostrou como é necessário que a rede de ensino trabalhe a educação climática de forma transversal nos currículos - Divulgação/ Jeduca

A crise climática está comprometendo o direito à educação em diversas partes do mundo, como nas enchentes no Rio Grande do Sul e na seca na Amazônia. Esses eventos extremos afetam diretamente a aprendizagem, levando a absenteísmo, abandono escolar e problemas de saúde mental em alunos e professores. Além disso, há impactos indiretos, como migrações e mudanças na infraestrutura das escolas.

Durante a 8ª edição do Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, promovido pela Jeduca, em São Paulo, especialistas discutiram como a educação pode responder a essas emergências e, ao mesmo tempo, preparar e conscientizar as novas gerações para enfrentar os desafios climáticos.

A mesa foi mediada pela repórter do Estadão em Brasília, Paula Ferreira, e contou com a participação do professor da Escola Municipal Indígena Marechal Rondon, Beto Fernandes Torres, da etnia Ticuna; do especialista em Clima e Meio Ambiente do UNICEF no Brasil, Danilo Moura; e da secretária de Educação do Rio Grande do Sul desde abril de 2021, Raquel Teixeira.

 

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Diante das desigualdades existentes em cada região, é preciso considerar suas vulnerabilidades e complexidades ao discutir soluções e ações enérgicas para garantir o acesso à educação. O professor Beto mostrou um pouco das dificuldades que alunos e professores da região chamada de Alto Solimões enfrentam em meio a um período de estiagem severo.

"A educação da nossa região, onde eu moro, na comunidade Feijoal, tem 1.950 alunos do ensino fundamental ao ensino médio. São alunos que sofrem os efeitos do clima, pois a merenda não chega na comunidade; ele vai para a escola sem tomar café e volta para casa sem comer nada", relatou o docente.

Beto disse ainda que criou um projeto chamado "Jovens Comunicadores" para conscientizar os alunos e os pais. Nesse projeto, os participantes levam alimentos para as famílias das comunidades do entorno, porque há muitas dificuldades em fazer esse transporte. Também foi proposto à escola trabalhar sobre os problemas trazidos pela crise climática, por meio do currículo "Formas próprias de educar". No entanto, a proposta não foi aceita pela gestão municipal, e não houve retorno da secretária estadual de Educação.

"Nós precisamos de ajuda, de apoio, de autoridade, para que nossa realidade e a situação que estamos passando sejam vistas", criticou Beto Fernandes.

Em outro cenário, com chuvas intensas e enchentes, o Rio Grande do Sul viu a vida de mais de 403.538 alunos, só da rede de ensino estadual, ser afetada pelas inundações. Segundo dados apresentados pela secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, 1.104 escolas foram impactadas e, quatro meses depois, a rotina dos estudantes ainda não foi totalmente normalizada.

"Nós estamos tentando ter uma escola acolhedora e segura. O que é isso? Segura no sentido da infraestrutura adequada, que passou por uma limpeza pesada; a escola está lá, a cozinha foi reposta porque tivemos que comprar vários mobiliários. Então, a escola segura é aquela que tem as condições materiais para funcionar. E a escola acolhedora é aquela que passou por algum tipo de apoio psicológico", pontuou Raquel.

"O projeto que estamos fazendo de novos parâmetros de construção, e que eu espero que sirva para outros locais, propõe novas condições de infraestrutura para as escolas", completou a secretária estadual de Educação do Rio Grande do Sul.

Para o especialista em Clima e Meio Ambiente do UNICEF, Danilo Moura, é preciso compreender como os efeitos climáticos operam diante das vulnerabilidades, principalmente na vida das crianças e adolescentes, porque elas não são afetadas da mesma forma.

"As comunidades que já são mais vulnerabilizadas são as menos responsáveis pela crise climática. Isso numa escala global, quando você olha para quais são os países que estão na linha de frente do que de pior está acontecendo no clima", disse Moura.

Ele acrescenta que as políticas ambientais no Brasil não têm um olhar e ações que incluam as crianças e os adolescentes.

"Como é que temos que pensar e responder à crise climática na forma como ela está posta hoje? Primeiro, é pensar na preparação e adaptação que considerem as crianças e os adolescentes nos serviços que são essenciais para elas, suas famílias e comunidades. Então, você precisa pensar numa política de educação que integre a preocupação com a crise climática e que não pode ser algo pensado externamente ou deixado para depois", destacou Danilo Moura.

Programação

Ainda durante a programação do Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, foram abordados temas sobre "Como cobrir educação infantil e a importância em ano eleitoral", sob a perspectiva relacionada às questões sobre a formação dos professores, avaliação e como a educação de qualidade nessa etapa da vida é essencial.

A mesa, mediada pela jornalista do "Nós, Mulheres da Periferia", Mayara Penina, contou com a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ex-Diretora de Políticas de Educação Étnico-Racial e Educação Escolar Quilombola/Secadi/MEC (2013), Lucimar Rosa Dias; a coordenadora-Geral de Educação Infantil na Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) desde 2023, Rita Coelho; e o doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Tiago Bartholo.

Outro destaque foi a participação da jornalista norte-americana Sarah Carr, autora do livro “Hope Against Hope”, que aborda os impactos do Furacão Katrina nas escolas de Nova Orleans por meio das experiências de um aluno, um professor e uma família.

Na mesa sobre "New Orleans e Rio Grande do Sul, o impacto das tragédias climáticas nas escolas", também participaram as jornalistas gaúchas Isabella Sander, repórter do jornal Zero Hora, e Kelly Mattos, da Rádio Gaúcha, que estiveram na cobertura dos alagamentos que assolaram cidades do Rio Grande do Sul nos meses de abril e maio de 2024. As três jornalistas discutiram os efeitos de eventos climáticos extremos, que tendem a se tornar cada vez mais comuns, na educação.

Debates seguem nesta terça-feira

Nesta terça-feira (3), Manuel Palácios, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), liderará um painel discutindo as mudanças no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o novo índice de alfabetização, a reformulação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), além das avaliações do ensino superior e a transparência dos dados.

Com as eleições municipais previstas para outubro, as políticas públicas de responsabilidade direta dos municípios serão um tema central nesta edição. Para discutir a cobertura das pautas de educação durante o período eleitoral, um cenário marcado por interesses políticos, jornalistas regionais foram convidados a debater o assunto.

Como garantir que a educação seja adequadamente abordada na cobertura das eleições? Quais são os maiores desafios e estratégias para proteger as pautas de educação de influências políticas? Esses e outros questionamentos serão discutidos no painel, que contará com a participação de Cley Medeiros (A Crítica/AM), Fabiana Pulcineli (O Popular/GO), Jéssica Senra (TV Bahia/BA) e Mirella Araújo (Jornal do Commercio/PE), com mediação de Jéssica Welma (Diário do Nordeste/CE).

*A titular da coluna Enem e Educação, do Jornal do Commercio, viajou a convite da Jeduca

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