Igor Maciel: O PL começa a se afastar do "extremismo" e os indícios estão por toda parte
A lição é que, num mundo de recursos limitados, não existe ideologia que resista ao prejuízo contínuo. Valdemar Costa Neto percebeu e começou a agir.

Um passo por dia, o PL está se afastando de Bolsonaro. Os indícios começaram há muito tempo, desde que Valdemar Costa Neto (PL) prestou depoimento em Brasília e saiu como se nada tivesse acontecido.
Depois a Polícia Federal chegou a indiciá-lo junto com Bolsonaro (PL) no inquérito do golpe, mas ao fazer a denúncia o Procurador Geral da República “pulou” o nome dele e não denunciou o presidente nacional do Partido Liberal. O ministro do STF Alexandre de Moraes tampouco reclamou.
Longe dos…
Desde então, os sinais foram ficando mais evidentes. Valdemar, liberado recentemente para conversar com Bolsonaro, mantém o aparecimento em público, fez discurso brando na manifestação do último domingo (16), mas apareceu há alguns dias com presidentes estaduais do partido que, em seguida, fazem declarações sobre equilíbrio e dizem se “afastar do radicalismo”.
…extremos
A liderança de Pernambuco foi uma delas. Anderson Ferreira (PL) foi confirmado mais uma vez como força motriz da sigla no estado e já fez declarações detalhando o futuro do PL em “distância com extremismo” dos últimos anos e apontando para a “lucidez e o diálogo”.
Em Pernambuco, o PL está rachado entre o grupo de Anderson, que é majoritário, e os bolsonaristas liderados por Gilson Machado (PL), tidos como “extremistas”.
Em toda tentativa de Gilson protagonizar o futuro da sigla, a prevalência de Anderson é reforçada por Valdemar, criando impasses para parte da direita local.
Eduardo Bolsonaro é um fugitivo da Justiça ou um exilado político? Veja no vídeo:
Eduardo
Agora, a saída de Eduardo Bolsonaro (PL) dá outro exemplo desse afastamento. O filho “zero três” de Jair Bolsonaro era cotado para assumir a prestigiosa Comissão de Relações Exteriores, já estava tudo acertado com a presidência da Casa.
Mas a preocupação por ter sido citado na delação de Mauro Cid, apesar de não ter sido indiciado ou denunciado, deixou Eduardo atento ao risco de ser preso ou, no mínimo, ter o passaporte apreendido caso voltasse ao Brasil.
EUA
Eduardo anunciou então que vai abrir mão do mandato de deputado, “temporariamente”, para “lutar nos EUA”. Foi a justificativa mais heroica que encontrou de admitir que está com medo de voltar e terminar na cadeia.
A pouca adesão popular à manifestação do pai no último domingo terminou sendo decisiva para que o deputado decidisse ficar em terras americanas, enquanto for bem vindo por lá. A decisão causa ainda mais espanto porque o filho “zero três” é exatamente aquele que vinha sendo apontado como a alternativa do ex-presidente para disputar 2026.
Frio
Dentro desse afastamento que o PL empreende em relação ao bolsonarismo, quase um abandono, a nota do partido em referência à licença de Eduardo Bolsonaro soou como indiferença quase explícita.
Enquanto apoiadores mais fervorosos corriam às redes para declarar em protesto que ele era um “exilado político da ditadura de toga”, Valdemar mandou publicar uma nota em que a sigla diz estar “triste” com a decisão do filiado, que tem o “respeito de todos”, mas que “segue a postos, acreditando na força política e nas instituições dos três poderes”. E fim de papo.
Próximo
Foi quase como se Valdemar dissesse: “ok, próxima pauta. Esta já não tem interesse”. O texto é a caracterização exata do que Anderson Ferreira tem dito sobre o PL em Pernambuco, longe de qualquer extremismo, mas é também uma manifestação do pragmatismo de quem percebeu que sua maior aposta para o PL acabou não rendendo os frutos sonhados.
Valdemar paga uma casa e salários para Bolsonaro desde 2023 com o objetivo de usar a influência dele em 2024 e fazer o maior número de prefeitos do Brasil.
Prejuízo
Nesse período o Partido Liberal passou por maus bocados, teve batida policial na sede, o próprio Valdemar foi detido, delações premiadas, ameaças de extinguir a sigla e, quando foram abertas as urnas da eleição, o PSD foi quem venceu em mais municípios, seguido pelo MDB, pelo PP e União Brasil. O PL ficou abaixo do esperado.
O partido de Valdemar, que sofreu o pão que o diabo amassou para manter o bolsonarismo dentro, ficou apenas em quinto lugar com metade dos prefeitos que planejava conseguir.
Kassab no PSD conseguiu o dobro de prefeituras do PL, e não precisou passar por nenhum perrengue.
No fim a lição é que, num mundo de recursos limitados, não existe ideologia que resista ao prejuízo contínuo. Valdemar percebeu isso e começou a ser mais pragmático.
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