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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

Igor Maciel: Bolsonaro e a maratona para trocar cinco por onze

Bolsonaro não vai escapar se estiver sendo julgado por 11 ministros ao invés de cinco. A questão é o tempo entre virar réu e ter a prisão decretada.

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Igor Maciel

Publicado em 24/02/2025 às 20:00 | Atualizado em 25/02/2025 às 6:51
Visita de Bolsonaro no Recife, em Boa Viagem - RENATO RAMOS/JC IMAGEM,

A agenda de Bolsonaro (PL) em Pernambuco foi pensada para não aparentar falta de apoio popular. Uma padaria, uma usina da capital e, por fim, um evento promovido por vereadores no interior que podem mobilizar a militância para dar um ar de “povo” ao momento.

Foi pensado dessa forma não porque Bolsonaro tenha “acabado” ou coisa do tipo, ele segue sendo muito forte eleitoralmente no plano nacional, embora não tenha mais qualquer indício da novidade ou quebra de sistema que vendeu em 2018. Bolsonaro é um político igual a qualquer outro, com um grupo de seguidores, igual a qualquer outro, e muitos desses seguidores orgânicos, como só ele e Lula (PT) ainda possuem no Brasil.

O problema é que ele veio para o Nordeste, para o Recife e numa segunda-feira. Por isso havia pouca gente.

Pão e café

A padaria ficou lotada, porque se um ex-presidente, com apelo populista, não conseguir lotar nem uma padaria, precisa pensar se ainda quer viver disso. Mas escolher uma segunda-feira pela manhã, no horário em que todo mundo deve estar trabalhando, para tentar mostrar alguma força pública, é o pior dos planos. Ou foi o que era possível.

Numa capital do Nordeste, onde há forte rejeição ao nome dele, pior ainda. Não foi por acaso que Bolsonaro passou pouquíssimo tempo no local, discursou por 5 minutos e foi embora para os outros compromissos. Fotos demais junto a um público que nem conseguiu atrapalhar o trânsito por não ser tão numeroso, é ruim para a campanha que ele precisa fazer.

Quer os 11

Bolsonaro está em campanha, mas não é para ser candidato em 2026. É para não ser preso em 2025.

Quando se refere a uma “arbitrariedade” caso a prisão seja confirmada, está questionando principalmente o fato de ser um ex-presidente da República, num caso de grande repercussão, e estar para ser julgado pela primeira turma do Supremo Tribunal Federal, ao invés de ter seu processo apreciado por todo o plenário.

Não é, também, que ele vá escapar da condenação se estiver sendo julgado por 11 ministros ao invés de cinco. A questão é o tempo entre virar réu e ter a prisão decretada. Tudo muda quando o ano eleitoral chega.

Povo

Alexandre de Moraes está fazendo questão de acelerar o processo para não entrar em 2026, um ano de eleições gerais, com Bolsonaro pelas ruas tentando jogar a população contra a Justiça, principalmente o TSE.

No Recife, como se viu, não é fácil de conseguir adesão popular espontânea, mas no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste, dependendo da cidade, a mobilização será bem maior.

Advogados

Quanto mais o julgamento demorar, mais expressivas podem ser as manifestações de apoio. Cinco ministros julgando em uma turma é mais rápido, são cinco análises, cinco votos e a chance grande de que o resultado seja unânime pela condenação.

No plenário tudo isso dobra. E deve haver dois votos favoráveis ao ex-presidente, o que modifica tudo para os advogados.

A pressa…

Ele ainda seria condenado no plenário com os 11. Dá até para arriscar o placar: 9 x 2.

Mas, antes disso, ao menos dois ministros divergentes em relação aos colegas poderiam pedir vistas. Pelo regimento interno da corte, cada um teria 90 dias para uma análise mais apurada. Somente aí já seriam seis meses de atraso na decisão.

Isso sem contar com a possibilidade de que mais alguém possa pedir vistas e atrasar, em cada pedido, novos três meses.

…é amiga

Depois, o fato de não ser unanimidade daria chance para que os advogados de defesa entrassem com recursos protelatórios. Facilmente se chegaria à eleição de 2026 com Bolsonaro no banco dos réus e apoiadores inflamados nas ruas. Quem lembra da eleição de 2022 pode ter uma ideia do cenário.

Sabendo que a condenação acontecerá de qualquer forma, Moraes quer evitar a tensão que se daria com um prolongamento. E ele tem o apoio dos colegas no Supremo. Gilmar Mendes, o decano do grupo, é um dos que já se manifestou favorável a manter o julgamento na primeira turma. Gilmar é de outra turma, inclusive.

Tá pago

Por causa desse cenário, a única maneira de tentar escapar de uma prisão, sem ter que fugir do país, é buscar pressão popular em eventos como os de Pernambuco e como o que vai acontecer no dia 16 de março, organizado por Silas Malafaia.

Por aqui, a visita se deu muito mais para agradar apoiadores fiéis como Gilson Machado do que para colher provas de popularidade. No Sudeste é outra história.

Lá é para fazer foto aérea e usar como argumento para afirmar que ainda está forte. Aí é preciso esperar. porque não é só a quantidade de cabeças na rua, mas a repercussão disso.

Antes de ser preso, Lula realizou diversas manifestações pelo Brasil, algumas foram tímidas, como a de Bolsonaro nesta segunda (24), outras foram imensas, com muitos apoiadores nas ruas e palanques.

Não mudou nada. Lula foi preso por quase dois anos e não saiu por causa da pressão popular, mas por conveniência política.

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