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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

Impopularidade de Lula ameaça biografia e deixa aliados "doidos pra trair"

Não é de estranhar que no último mês, numa sequência quase orquestrada, três aliados do governo tenham feito críticas em três semanas consecutivas.

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Igor Maciel

Publicado em 15/02/2025 às 20:00
Lula - Paulo Pinto/Agência Brasil

Meses atrás, quando Lula (PT) ainda nem havia sofrido o acidente no banheiro e não se questionava a saúde dele, a coluna Cena Política dizia que o petista poderia não ser candidato em 2026. Na época eu fui questionado porque não parecia haver motivo para ele evitar a candidatura.

Pois bem, a principal justificativa continua sendo a que foi apresentada ali, em 2024: zelo biográfico. Alguém com a estatura biográfica de um presidente da República eleito três vezes, preso, defenestrado e reabilitado pelo voto popular, não pode arriscar que o último capítulo de sua história fale sobre uma derrota.

Mas esse caldo ganhou corpo.

Zelo biográfico

Getúlio Vargas não queria terminar a própria biografia sendo expulso da presidência, porque é o que ia acontecer, e deu um tiro no peito. Lula não fará isso, porque tem mais juízo e, extremamente pragmático, está longe de cometer alguma estupidez dessa natureza. Ainda mais porque sua situação é infinitamente mais confortável.

O zelo biográfico encaminha Lula para não ser candidato porque o risco de uma derrota tende a apagar todos os capítulos anteriores de sua história tornando eles insignificantes. E o risco de perder só tem aumentado.

Derrota

Perder significa ver um adversário assumir o poder e, nos braços do povo, devolver Lula e o PT à condição de párias do país. Com mais um argumento, dessa vez, que é o de terem feito subir o preço dos alimentos.

Todo o discurso de comida para os pobres anterior, mesmo sendo totalmente justo e imprescindível, vai se perder também. Mudar a comunicação não está conseguindo mudar a popularidade do presidente e de sua gestão. O Datafolha desta semana vem com mais uma notícia terrível. Aumentou a rejeição.

Mensalão

A pesquisa trouxe a menor aprovação para Lula na história de seus três governos. Somente 24% da população dizem que a gestão atual é “boa” ou “ótima”, contra 41% que afirmam ser “ruim” ou “péssima”.

Para ter uma ideia de como essa comparação é simbólica, o pior momento de todos os períodos em que Lula esteve na presidência foi no fim de 2005, no auge da crise do Mensalão, quando chegou a apenas 28% de avaliação positiva. Apesar de tudo, estava melhor do que hoje.

Não se brinca com inflação e muito menos com inflação de alimentos. A paixão aguenta quase tudo, mas não é fácil amar de barriga vazia.

Não é só isso

O simples fator “popularidade” não é o único a motivar essa decisão, se ela acontecer e Lula não for candidato em 2026.

O problema dos planos eleitorais é que eles não podem ser feitos na individualidade. E há algo que deve ser observado no plano geral. O governo Lula tem baixa aprovação, mas isso não tem significado um aumento nas intenções de voto de candidatos contrários ao petista.

Em resumo: a rejeição da oposição à direita segue alta mesmo com a aprovação do presidente estando baixa. Se Lula é rejeitado e seus adversários também, temos um cenário propício às “alternativas”.

Os partidos do centro se arrepiam, esticam os dedos, endireitam a coluna, peito pra fora, barriga pra dentro e se apresentam ao eleitor, tentando se afastar dos extremos.

Ensaio

Não é de estranhar que no último mês, numa sequência quase orquestrada, três aliados do governo Lula tenham feito críticas no espaço de três semanas consecutivas. Primeiro foi Gilberto Kassab (PSD), depois foi Arthur Lira (PP) e, por fim, Paulinho da Força (SD).

Três representantes do centro, três figuras fundamentais em seus partidos e três partidos com cargos no governo petista.

Ensaios não são novidade nesse período, quando os partidos estão planejando o futuro da próxima eleição. Mas é preciso ter a temperatura certa até para fazer testes. E a temperatura das pesquisas de popularidade do governo estão ajudando bastante.

Se o presidente não se recuperar, uma impopularidade puxa um abandono de barco, que puxa outro, que puxa outro e vira uma grande armada de oposição formada por ex-aliados.

Quem vai arriscar a biografia de uma vida nisso?

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