A pesquisa Quaest de janeiro tem dois números muito importantes para entender a situação atual do governo Lula (PT).
O primeiro número é o da avaliação positiva no Nordeste. O percentual dos que consideram o governo petista “ótimo” e “bom” caiu 11 pontos percentuais.
Se estamos falando da região em que a administração tem seus melhores resultados historicamente e esses 11 pontos significavam, um mês atrás, quase um quarto de toda a avaliação positiva nesse ponto do mapa, a crise de popularidade fica um pouco mais dramática.
Dever de casa
Impopularidade não é problema em governo que tem estrada para percorrer e direção definida. Mas o governo Lula não tem nem uma coisa e nem outra. Deveria ter começado muito mais cedo a lidar com a amargura necessária dos remédios imprescindíveis. Ao invés disso, insistiu em receitas populistas, prometendo picanha e cerveja, fingindo que não tinha dever de casa a fazer. Deu nisso.
Preço alto
O segundo número importante para entender o governo Lula está na inflação. Na pesquisa, 83% dos entrevistados disseram que o preço dos alimentos subiu muito nos últimos trinta dias. O impacto do preço dos alimentos é maior nas regiões mais pobres do país.
Em alguns lugares, preço mais alto no caixa do supermercado significa um aperto a mais no orçamento. No Nordeste e no Norte a coisa é diferente. Inflação de alimentos pode significar fome ou desnutrição. Não é por acaso que a popularidade caiu até no reduto petista.
Intervenção
Não é por acaso que, tendo pesquisas como esta há várias semanas, o governo começou a se desesperar. Não é por acaso que o desespero virou confusão “dicionarística” com a palavra “intervenção” sendo mal utilizada, entendida como congelamento de preços, e corrigida em seguida antes que o caos se instalasse tal qual a novela do PIX.
Grave
Inflação de alimentos é coisa muito séria e não pode ser tratada com qualquer vestígio de irresponsabilidade, nem pelo governo que precisa evitar arroubos populistas, e nem pela oposição, que precisa evitar a demagogia. Inflação de alimentos acentua pobreza e sofrimento que não deveriam ser politizados nunca.
JCPM
Em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o empresário João Carlos Paes Mendonça seguiu essa linha para falar do assunto e, com a experiência de quem presidiu a Associação Brasileira de Supermercados por dez anos (1977/1987) num dos períodos mais difíceis para o setor, com tentativas de congelamento de preços e inflação descontrolada, apontou a solução para o governo: responsabilidade.
Não gastar
“Problema é o controle fiscal. Gastando demais, não tem economia que aguente. Com o dólar alto, é mais vantajoso para o produtor exportar. Você pode, se tiver condições, usar o estoque regulador e tentar melhorar os preços internamente.
Mas, resolver mesmo, só tem uma solução que é começar a reduzir o déficit fiscal”, explicou o empresário. Ele alerta, porém, que isso deveria estar sendo feito desde o início da gestão. “Era mais fácil ter acabado com o desperdício antes. Com agonia de última hora não resolve”, completou.
Haddad
João Carlos Paes Mendonça, que conviveu com vários ministros da Fazenda, foi questionado sobre o atual ocupante do cargo, Fernando Haddad (PT). E foi direto: “Eu gosto dele e ele tem boas posições. Mas tem um problema sério porque o PT é contra ele e ele quer agradar o presidente, administrar ansiedade de popularidade”, explicou, e comentou a vantagem da experiência da equipe de Lula: “tem muita gente de cabelo branco no Planalto que precisa pensar com mais objetividade”.
Reeleição
Durante a entrevista, o empresário, que além de presidente da Abras foi membro do Conselho Monetário Nacional entre 1984 e 1986, ainda falou um pouco sobre um tema que considera essencial para o desenvolvimento político e administrativo do país: “Sou absolutamente contra a reeleição. Eu acho péssimo e só acabaremos com os problemas do Brasil quando acabar com a reeleição”, encerrou.