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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

A confiança do consumidor e a popularidade dos presidentes embalando a reeleição

O sujeito assume num dia e, logo em seguida, já está pensando em como vai manter alta sua popularidade para poder ser reeleito quatro anos depois.

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Igor Maciel

Publicado em 14/12/2024 às 20:00
Mantega foi um dos responsáveis pelo desastre econômico do final dos anos Dilma - ANTÔNIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

O puxa-saco é a desgraça de um gestor público. E ele se torna perigoso para um país quando está falaciosamente baseado em dados e disposto a usá-los para garantir extensão de seus empregos.

Por exemplo, se você pegar os resultados do ICC nos últimos anos, o Índice de Confiança do Consumidor, e compará-lo aos dados de popularidade dos últimos presidentes vai perceber como eles são íntimos. É muito bom para um assessor utilizá-los e convencer o chefe de que “aquecendo a economia a popularidade vem”.

Sincronia

Sobrepostos, os gráficos do ICC com os de popularidade se engalfinham, com o humor do consumo e da confiança na economia levantando ou derrubando a simpatia pelos presidentes. É nisso que o assessor mais empolgado e motivado para agradar se baseia para defender que Lula (PT), por exemplo, precisa gastar tudo o que puder, porque só assim irá embalar a economia e chegar forte à reeleição.

Atual

Os números de novembro, já divulgados, vão em alta. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), no mês, subiu 2,6 pontos, atingiu 95,6 pontos em novembro, maior nível desde abril de 2014 (96,6 pontos). O dado bate com o fôlego que o governo Lula teve em dezembro, com a Quaest apontando que a popularidade do petista subiu.

Isso é bom para o clima político, mas tem um componente preocupante.

ICC

Para entender o Índice de Confiança do Consumidor é importante saber que ele não mede só o humor do mercado financeiro como alguns podem acreditar, mas também do sujeito que vai ao mercado da Encruzilhada comprar carne para o almoço do domingo. Daí, o resultado é bem simples.

Se o produto estiver mais barato, ele fica feliz e simpatiza com o governo.

Mas se aquele consumidor descobre que não poderá levar a quantidade planejada porque o preço subiu muito, fica desanimado, pragueja o gestor da vez e a popularidade da gestão despenca.

Isso acende um alerta na assessoria dos governantes e eles começam a gastar tudo o que podem para recuperar os números.

Falácia

O uso desses dados para guiar a gestão nesse sentido é falacioso porque é impossível promover melhorias consistentes em espaços curtos de tempo, entre uma eleição e outra, se você não utilizar medidas artificiais de aquecimento rápido da economia.

Aumentam isenções, aumentam benefícios sociais, empurra dinheiro no mercado, aquece a economia sem lastro de consistência e os índices de popularidade melhoram.

Mas o impacto é tão duradouro quanto o voo de uma galinha gorda. Os políticos mais hábeis conseguem empurrar o prejuízo para o futuro próximo, quando não estiverem mais no cargo.

Custo

No caso do Governo Federal, gastar tudo para melhorar popularidades significa comprometer a estabilidade fiscal do país e, em médio prazo, contribuir para uma pressão inflacionária.

Assim que a galinha gorda aterrissar, o país começa a empilhar períodos de recessão sem contar com recursos para sair do atoleiro. Foi o que aconteceu no fim do governo Lula 2 para Dilma Rousseff (PT).

Marolinha

Na época, querendo passar intacto pela crise internacional de 2008 e sustentar a conversa de que ela era uma “marolinha”, Lula gastou tudo o que podia. O período entre 2008 e 2010, inclusive, é um dos únicos na História em que o Índice de Confiança do Consumidor se descolou da popularidade. Havia um pessimismo imenso, mas o presidente conseguiu sustentar a ideia de que aquilo iria passar rápido, coo uma "marolinha".

No período, para sustentar o discurso, houve aumento significativo do Bolsa Família e o BNDES concedeu centenas de bilhões em empréstimos.

Lula elegeu a sucessora, que seguiu gastando tudo o que podia e dobrou a aposta quando partiu para a reeleição em 2014, intervindo no setor elétrico para baixar a conta de luz.

O fim da história é que ela acabou impedida e o Brasil ainda lambe as feridas da crise que isso provocou, uma das maiores da História.

Reeleição

O sistema de reeleição do Brasil, por sinal, piora ainda mais essa perspectiva irresponsável.

Guido Mantega, intrépido ministro da Fazenda de Dilma, já deu entrevistas depois admitindo que se arrepende das ações no setor elétrico daquela época, mas credita o erro ao ambiente.

Ele não diz, mas o ambiente da época era uma oposição que havia se fortalecido com as manifestações de 2013 e a popularidade da presidente que estava em queda.

A reeleição dela estava em risco e a ordem no PT era “fazer o diabo” para vencer a disputa contra Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (pelo PSB, após a morte de Eduardo Campos). Assim foi feito.

Irresponsabilidade…

A realidade do gestor público brasileiro é que ele assume num dia e, logo em seguida, já está pensando em como vai manter alta sua popularidade para poder ser reeleito quatro anos depois.

Quando o assessor puxa-saco chega com os números de confiança do consumidor, entre outros dados utilizados para medir a temperatura política da relação econômica, inicia-se uma perseguição que se torna um tanto estúpida, como um cachorro tentando morder o próprio rabo.

…interessada

Este é apenas um entre dezenas de fatores negativos da reeleição para cargos executivos no Brasil. Os prejuízos são imensos, ao ponto de o criador do dispositivo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ter declarado, tempos atrás, que foi um dos maiores erros que cometeu e alguém precisa acabar com isso.

Difícil é encontrar um parlamentar em condições de fazê-lo. Disposto a peitar a solução. O Brasil que lute com a irresponsabilidade interessada.

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